Cartão de cidadão
O meu Cartão de cidadão caduca a 29 de Agosto próximo. Depois
de ter visto a questão da sua renovação ser tema de abertura de trinta
telejornais e de saber que as pessoas iam de véspera para a porta das
repartições, como se vai para comprar um bilhete para o estádio da Luz quando
lá vai jogar o Gil Vicente, achei por bem acautelar-me e tratar do assunto com
antecedência. Informei-me onde poderia tratar do assunto e na quarta-feira, dia
26 de Junho, na parte da manhã, dirigi-me a um cartório notarial de competência
especializada. Como era de esperar, correu mal. Uma simpática e diligente funcionária
veio atender-me ao balcão, numa sala absolutamente às moscas. Não estamos a
fazer esse serviço, não temos sistema informático. Mas tenho informações de que
a avaria é geral e não se prevê que seja resolvida hoje.
Com bom português, desconfiei. Porque ser português é
isso mesmo, desconfiar do governo, da oposição, dos árbitros, da Câmara e da
junta de freguesia. E fui a outro lado, onde nem chegou a correr, nem mal, nem
bem. A maquineta que distribui uns papelinhos para evitar a formatura militar
da bicha lá tinha, bem visível, o aviso: serviço do cartão do cidadão suspenso
por razões técnicas. No caminho aproveitei e tomei um cimbalino – que maravilha
de vocábulo, carago! - num café modesto
e voltei ao primeiro local. Poderia a ministra ter exorbitado das suas
competências, ameaçado um qualquer amanuense, e ter resolvido a questão do sistema
informático. Voltou a correr mal e a simpática funcionária, sem haver sistema,
estava de saída para a sopa do almoço.
No dia seguinte descansei e deixei que o sistema pudesse
regressar, com calma, sem pressas e que o drama do cartão de cidadão continuasse
a abrir telejornais e a fazer abanar as orelhas ao senhor Rodrigues dos Santos,
aquele que aos fins de semana escreve livros sobre os governadores e as suas
amantes. Mas voltei na sexta-feira, dia 28. Pelos vistos o sistema informático
recuperara dos cuidados intensivos. Havia uma pessoa a ser atendida e outra à
espera, sentadinha numa cadeira. Aproveitei e sentei-me ao lado, folheando o
jornal que, previdente, levara comigo. No máximo meia hora depois estava na
rua, com o pedido de renovação feito e pagas as taxas correspondentes, no valor
de 18 euros.
Vocês não vão acreditar e têm toda a razão. O português -
se de facto vocês são portugueses de pendurar a bandeira nacional na varanda
quando o Ronaldo vai à Madeira! - duvida de tudo. Desconfia do governo, da
oposição, dos árbitros, da Câmara e da junta de freguesia. Mas hoje, dia 4 de
Julho, ao sexto dia depois de ter ido tratar dele, tinha na caixa de correio a
cartinha cheia de dobras e de códigos para ir levantar o meu novo Cartão de
cidadão. Quer dizer, amanhã, quando se completa uma semana sobre a data em que
foi pedido, posso ir levantá-lo.
Só espero que a notícia não corra rua abaixo. Porque
certamente a ministra cai, o primeiro-ministro volta a Bruxelas para aquelas
profícuas reuniões de dezenas de horas e o doutor Rio há-de vir ao meu encontro
a insultar-me em alemão. Para eu lhe responder em umbundo. Mas registem porque
vale a pena. O meu Cartão de cidadão demorou meia hora a pedir e menos de uma
semana a chegar. Onde tratei dele? Pois bem, no 1º Cartório Notarial de
Competência Especializada do Porto. Um serviço que eu até desconhecia!
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