5 de maio de 2019

No dia das Mães


Mãe única, Mãe plural. Hoje só queria escrever-te o nome e debulhar-me em lágrimas, porque só isso te traz de volta. Quando tudo me vai faltando e mais me aproximo de ti, mais me dói a distância da tua ausência. E o teu silêncio, aquele silêncio de que nunca falámos, que não se aprende nos livros, que não se escreve, e que tanto fez por me traçar um rumo na vida. De resto, perdi-me de tudo e nunca acertei os meus passos com o voo das cegonhas. Mesmo que cada vez mais me deslumbre a imponência da sua envergadura, o estilo solene e elegante do voo e a ternura natural com que alimentam as crias no recato tosco dos seus ninhos. Mães cuidadosas que são, como todas as mães que entregam a essa condição todo o amor que não cabe nas palavras nem no tempo.


Depois fica-me a certeza de que cada voo é a rota extremosa de uma mãe que passa, porque todas as mães voam sempre, por todo o lado, em qualquer momento. Omnipresentes. Num rasto de luz que nada é capaz de impedir ou dificultar. Um voo de arribação, inquieto e rápido como o voo diligente das andorinhas, tecendo os ninhos nos beirais. Um voo vigilante da ave de rapina, perscrutando o solo à procura do menor perigo que possa esconder-se à sombra das árvores. O voo artificial de um avião de longo curso, com a imponência brilhante de um metal raro e a beleza de um concorde com asa delta, a mais de trinta mil pés, sentindo o calor que falta lá fora, respirando o ar que ali já não existe. E um dia, um dia do calendário pendurado no branco baço da parede da cozinha. Para te celebrarem hoje, como se tu e toda a tua dedicação pudessem mesmo caber no calendário inteiro. Mãe única, Mãe plural, Mãe sempre!


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