No dia das Mães
Mãe única, Mãe plural. Hoje
só queria escrever-te o nome e debulhar-me em lágrimas, porque só isso te traz
de volta. Quando tudo me vai faltando e mais me aproximo de ti, mais me dói a
distância da tua ausência. E o teu silêncio, aquele silêncio de que nunca falámos,
que não se aprende nos livros, que não se escreve, e que tanto fez por me traçar
um rumo na vida. De resto, perdi-me de tudo e nunca acertei os meus passos com
o voo das cegonhas. Mesmo que cada vez mais me deslumbre a imponência da sua
envergadura, o estilo solene e elegante do voo e a ternura natural com que
alimentam as crias no recato tosco dos seus ninhos. Mães cuidadosas que são,
como todas as mães que entregam a essa condição todo o amor que não cabe nas
palavras nem no tempo.
Depois fica-me a certeza de
que cada voo é a rota extremosa de uma mãe que passa, porque todas as mães voam
sempre, por todo o lado, em qualquer momento. Omnipresentes. Num rasto de luz
que nada é capaz de impedir ou dificultar. Um voo de arribação, inquieto e
rápido como o voo diligente das andorinhas, tecendo os ninhos nos beirais. Um
voo vigilante da ave de rapina, perscrutando o solo à procura do menor perigo
que possa esconder-se à sombra das árvores. O voo artificial de um avião de
longo curso, com a imponência brilhante de um metal raro e a beleza de um
concorde com asa delta, a mais de trinta mil pés, sentindo o calor que falta lá
fora, respirando o ar que ali já não existe. E um dia, um dia do calendário
pendurado no branco baço da parede da cozinha. Para te celebrarem hoje, como se
tu e toda a tua dedicação pudessem mesmo caber no calendário inteiro. Mãe
única, Mãe plural, Mãe sempre!
0 Comentários:
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial