2 de novembro de 2018

Um bilhete do doutor e uma resposta…


O bilhete…

Não respondi ao teu último email porque o achei asqueroso.
Não achava possível que tivesses um comportamento como o que estás a ter.
Como fui ingénuo...
Mentiste-me quando, em Lisboa, me negaste os contactos que mantinhas com a minha mulher.
Horas e horas ao telefone, quando ainda eu e ela estávamos juntos ... que nojo de homem és tu ?
Atraiçoaste-me quando te meteste com ela na minha própria casa.
Não sentiste o mínimo de vergonha na cara ????
Não voltes a Portimão... nunca mais !!!! Eu já não vou suportar mais isso.
Não vás ao almoço em Pombal, porque eu vou lá estar e não te quero voltar a ver na minha frente.
És um monte de esterco que eu não quero ter que pisar.


A resposta…

Senhor Dr, sem extenso

Acuso a recepção da sua brilhante prosa cujo sentido não consegui entender, apesar das inúteis consultas ao Google e a Freud que, ao que consta, explica muita coisa. De qualquer modo a inquestionável erudição das dez linhas que teve a delicada gentileza de me enviar traçam, com rigor absoluto, o retrato fiel da sua personalidade única, pérfida e mais abjecta do que o somatório delas todas, mas que agradeço, como esperará, com vénia ao esterco e levantamento do chapéu.

Hesitei em dar-lhes resposta, porque é de uso não gastar cera com ruim defunto. E V. Exa., sem ofensa, é desde sempre o cadáver adiado de si próprio, sem consciência disso. Mas a incontornável qualidade da literatura não permite que deixe de salientar aspectos de relevante importância e da elevada sensatez e inteligência que, para sua glória, são mais do domínio público em cada dia que passa e lhe enriquecem o currículo e atestam o carácter.

Desde logo a irrepreensível caligrafia e o indisfarçável deleite com que V. Exa., sem ofensa, escreve e chafurda no esterco. E, ainda, a sua excelsa e não desmentida vocação para a mentira a para a calúnia, gratuitas e sem motivo. Bem como a sua conhecida coragem de sempre, atirando a pedra e escondendo a mão, que o mesmo será dizer, esfaquear pelas costas e pela calada da noite, pessoas e mesmo outros objectos, como muito bem sabe.

Tenta V. Exa, sem ofensa, imputar-me uma qualquer mentira, não sei quando, em Lisboa, sobre eventuais contactos mantidos com a sua respeitável esposa. Se por cada mentira contida nesta hipotética acusação, a si, lhe caísse um dente, certamente andaria V. Exa., sem ofensa,  à procura da prótese e dos destroços o resto da vida. Porque de forma vil e consciente você sabe que assim não foi e que, por se sentir nessa obrigação – se é de esperar que você se obrigue a qualquer coisa de útil! - apenas à saída de um almoço me referiu que o seu caso familiar iria terminar mesmo em divórcio, pouco ou nada mais adiantando, como também é seu uso.

Pergunta-me V. Exa., sem ofensa, que nojo de homem sou eu, como se nunca tivesse ouvido falar de mim. Pois claramente lhe respondo que, como sabe desde sempre, sou um homem com atitude erecta e porte vertical da cabeça, atributos de que não sei se alguma vez também já ouviu falar. E, ainda, que tenho nojo de quem assume uma conduta sem princípios e se socorre de procedimentos clandestinos, talvez em função dos efeitos secundários das pastilhas para o sono, que aparentemente lhe estimulam a imaginação para o mal e lhe sacrificam outras funções que, muito justificadamente, ainda gostaria de conservar, mesmo que não soubesse o uso a dar-lhes.

Refere V. Exa., ainda sem ofensa, que o atraiçoei na sua própria casa, “metendo-me” com a sua respeitável esposa, segundo palavras suas, certamente escritas no delírio da febre alta e da loucura. Não sei a que se refere e V. Exa., sem ofensa, também não faz a mínima ideia e faz de professor Karamba, sem a competência deste. Ou então se terá certamente enganado no destinatário, que será outro, mais ao seu nível e da sua igualha, provavelmente em comunhão de mesa, de habitação e, provavelmente, de algumas outras coisas.

Registo a sua condição de régulo de Portimão e a sua jurisdição sobre as margens do rio Arade. Mas não creio que isso lhe confira direitos especiais e me obrigue a invocar o Acordo de Schengen para ir às festas da cidade. E não faço sequer questão de vir a ser convidado oficial do digno presidente da autarquia. Do mesmo modo aproveito para lhe indicar que o almoço de Pombal já tem data e creio que, oportunamente, será V. Exa., sem ofensa, oficialmente informado dos respectivos pormenores, incluindo a ementa e o preço, sendo  este de pagamento antecipado.

Quanto ao esterco, que V. Exa., sem ofensa, de forma tão sublime trata em prosa, recomendo-lhe vivamente que se acautele. Não vá dar-se o caso de, por excesso dele, vir a tropeçar nos seus próprios passos! E a sair enxovalhado no traje e ofendido na pituitária!

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