Era naquele tempo que o milho adianta nascer
Era naquele tempo que o
milho adianta nascer ainda pequenininho, com a chuva a parar de chover,
devagarinho, devagarinho. A chana começa de ficar seca com a água do rio a
voltar no caminho dele, os passarinhos a sair das casas para voar cantar e
fazer os ninhos para nascer os filhos deles. Os bichos todos começam de passear
em cima do capim da picada, às vezes a ir até no rio para beber água de acabar
a sede. O sol começa de aparecer em cima das árvores grandes, sei lá se é
mussibe se é girassonde o nome delas, mas pouco a pouco vai chegar o camião com
o motorista branco, cambuta, com o bigode dele parece que é vassoura, o
kamacapa sentado ao lado no banco dele, a janela aberta, olhando todos os
lugares, sem medo nem admira sempre a segurar na arma dele pronto para dar tiro
numa palanca.
Na carroceria todas as
bikuatas que precisa para fazer o tal de campamento no meio do mato, com as
lonas para fazer o xingue ou sei lá o quê para dormir à noite, o fogo sempre a
arder logo logo ali perto, os leões no meio do escuro gritando as conversas
deles. As panelas para fazer o almoço arroz de frango se adiantou comprar um no
caminho, ali no meio do mato não tem mais loja para comprar nem kimbo para
arranjar. Ainda a mala de chapa pintada, a cor que não sei o nome dela, as
coisas de comer todas lá dentro. O arroz, o café, o açúcar, as cebolas, sei lá
mais o quê, o garfo de comer caneca de beber café.
Logo logo uma data das
palancas comendo o capim delas, o rio perto perto com os jacarés a dormir o
sono deles, o sol em cima, os olhos todos fechados, até pode ser que é só mentira
à espera que uma palanca venha beber água e de repente leva com o rabo dele,
cai no meio do chão, uma perna já está dentro da boca do jacaré a lhe puxar no
meio do rio. No meio do rio o jacaré é o soba mais velho, a manha toda que lhe
aprendeu com a vida dele, a palanca não vai voltar para comer o capim dela vai
morrer lá na água do rio, na boca do jacaré sem lhe deixar nadar para fugir. A
palanca desconseguiu da vida dela, o jacaré já arranjou o almoço dele.
1 Comentários:
O homem branco é o único assassino nesse relato maravilhoso .Somente mata para o prazer da caça e não para sobreviver .
Abraços
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