Mães
Mãe, hoje queria regressar
contigo aos anos da tua infância. Aquela infância que não tiveste e de cuja
falta nunca te lamentaste. Subir o caminho de terra, de mão dada contigo, em
silêncio, vendo o tojo estender-se até ao cimo da colina, onde a estrada muda
de direcção. Entrar contigo na casinha humilde, mais ou menos a meio da
encosta. Ver o fogo a crepitar na lareira, a panela de três pés a ser lambida
pelas chamas da fogueira, apenas a água fervente. Sentir a serenidade digna e
pobre que, além de meia dúzia de filhos em volta, aquecem o ambiente à roda da
tua Mãe. A mãe coragem naquele ignoto sítio que nem Brecht alguma vez seria
capaz de imaginar. A dignidade e a coragem não precisam nem de altivez nem de
abastança. Precisam apenas de amor. O amor de quem sustem as lágrimas num
cantinho do coração, de quem tira a côdea da boca para a dar aos filhos. E de
quem, no fim de todas as canseiras – e ainda de tudo isso! – desce ao centro da
aldeia, entra na igreja e agradece a Deus. Para depois regressar a casa,
tranquila, esperançosa e feliz.
Todas as mães, minha Mãe, são mães
coragem. Mães que carregam os filhos que lhes deformam o ventre e lhes amiúdam
os passos, enquanto mantêm uma esperança ansiosa à tona do sorriso azul e
terno. Mães que se confrontam com as dores do parto, os dentes cerrados, as
lágrimas de alegria e o riso feliz no rosto sempre infantil. Mães que se
anulam, que abdicam de si próprias, que se entregam ao sacerdócio de serem
coragem, de serem Mães, de escreverem amor com cada pequeno gesto. De
pertencerem aos filhos, para além de si e para além deles. Queira ou não
celebrar-se tudo isso num único domingo de Maio! Com a palavra Mãe eu escrevo
saudade, sinto a tua fronte fria na palma da minha mão e deixo que as lágrimas
me rolem pela face. E sinto que, contigo, perdi tudo!
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