Hoje, Mãe!
Dez anos passados. E dez
anos não são uma longa ausência, são a ausência inteira. São a perda absoluta.
Não foi uma fracção de mim que se perdeu. Fui eu todo, fui eu inteiro. Restou de
mim apenas o sentido da desesperança, sem mais esperança nenhuma. O meu
universo reduziu-se a uma palavra e essa palavra é deserto. Uma palavra sem
sentido, porque deserto não precisa nem de sentido nem de palavra. Não há
nenhum rio que corra, nenhuma sombra que abrigue, nenhuma pedra que escute. Deserto,
no sentido mais vazio e deserto do termo. A expressão mais simples de tudo o
que é excessivo e que é completo. Sem nada, sem nenhuma casa, sem nenhum barco.
E é à volta dele que vou esquartejando o tempo extremo, de olhos vazios e
passos quietos. Com o outono a espreitar ao fundo da semana, como se houvesse
uma esquina para dobrar e um sol para nascer. O choro sempre pronto, lento e
redondo, como se fosse lua cheia. Sem um sorriso, uma alegria, um voo de
pássaro. Um sentido simples.
Depois de ti, sem mais sentido.
Nenhum!
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