13 de agosto de 2017

Tudo à minha volta

Tudo à minha volta persiste em dizer-me que hoje é domingo. O calendário pendurado na parede da cozinha, o relógio sobre o tampo da mesinha de cabeceira, o sol a entrar pela janela do quarto e a espalhar-se pelo soalho. As ruas desertas de movimento, os bancos de jardim descansando à sombra das árvores, o maior número de devotos a caminho da missa, para a remissão dos pecados. E, suspensa no meio de todos os dias, a tua imagem e a tua permanente ausência de tudo, com quilómetros e anos de permeio, a fazerem por separar-nos.



Sei, felizmente, que valem mais as convicções do que as palavras. Mesmo quando chegam as noites longas de inverno, sabes que é assim. Como sabes que essas certezas me levaram a não ter tido nada na vida e a não me fazer diferença nenhuma que seja domingo, nem a esperar nada dele. Mesmo que seja de noite, ou que ainda seja de dia. Ou que seja Março, que é apenas mais um mês, com que se inicia a primavera. Que também não faz diferença nenhuma. É como se ainda fosse inverno, ou já fosse verão, e o sol já tivesse esbarrado no trópico de Câncer. E eu me mantivesse aqui, imóvel, no mesmo lugar, sem nenhum calendário pendurado na parede da cozinha. À espera de coisa nenhuma!

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