António Loução
António Loução era um homem
pequeno, magro, de aspecto frágil. E que, para a ignorante curiosidade dos meus
verdes anos, exercia a impensável actividade de super-homem. Era caçador
profissional! Só isso já era suficiente para me meter medo e, autenticamente,
para me aterrorizar quando o via, mesmo de longe, porque nunca me cruzava com
ele. Conseguia sempre evitá-lo, mesmo que ele se apercebesse da frágil
ingenuidade dos meus artifícios e dos meus propósitos.
Vivia no Bairro de Benfica,
numa casa um pouco abaixo da igreja, rodeada por um largo terreno, sem nenhum
tipo de vedação. Nem muro, nem rede, nem arame farpado. Nesse espaço se
arrumavam, sem ordem, um velho camião Fargo, de cor indefinida e carroçaria de
madeira, que era a sua casa durante os meses em que estava ausente, a caçar.
Muitos barris de vinho importados da metrópole, vazios, alinhavam-se ao longo
das paredes da casa, recebendo no tampo a água da chuva que caía dos beirais e
que evitava que as aduelas se desmoronassem.
Com as pontas presas às
paredes, havia estendais de arame zincado, que se mantinham mais tensos com a
ajuda de paus compridos a empurrá-los para cima. Neles se penduravam a roupa a
secar, a carne da caçada anterior que ali chegara envolta em sal e
acondicionada nos barris e ainda as peles dos bichos abatidos, que haveriam de
seguir para a fábrica de curtumes. Das peles curtidas se fariam sapatos à
medida, carteiras para as senhoras e alguns outros utensílios que ocorressem à imaginação
do mestre da sovela.
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