Não há nenhum caminho para o passado
Não há nenhum caminho para o
passado. O passado são todos os sítios onde nunca estivemos. Sento-me aqui
sozinho, a meu lado, como se estivesse na estação à espera do comboio e da tua
chegada. Quando tu és presente desde sempre e muito para além disso, sem viagem
de regresso. Temos as mãos dadas sempre para diante, como a fortaleza do molhe
que espera pela vaga seguinte e pelo próximo embate. De nada importam os danos
causados pelos temporais que ainda não houve, são ondas que não fazem a
preia-mar. Não fazem transbordar os rios, não são desejos de fim de tarde.
Há apenas uma nostalgia
breve em dizer-te que me fazes falta. Esta falta para diante, porque ela é a
nossa presença. E tu estás aqui comigo, como se fossemos todo o tempo que o
planeta tem para chegarmos ao sol. Seja a que velocidade for, o tempo é a coisa
que mais possuímos, a que mais se nos liberta das intenções e do sonho. E o
sonho é sempre este desejo fremente, carregado de madrugada e da certeza
arenosa do deserto que está por desvendar. E no deserto somos tudo, sem mais
vida do que a nossa, somos inteiros e completos. Pertencemo-nos, e sabemo-lo
sem outro caminho.
0 Comentários:
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial