No tempo em que celebravam o dia dos meus anos
No tempo em que celebravam o
dia dos meus anos
Ainda eu não tinha nascido,
Ainda o novo testamento
aguardava por ser escrito
E Jesus Cristo ia de sacola
ao ombro
A caminho da escola
Porque já havia abecedário.
Não se sabe como nem quando
O sol surgiu no meio do nada
para criar a noite
E o filho dela se fez luz e
dia e descoberta.
Foram inventadas as
montanhas
De cujos cumes brotaram as
pedras soltas e as nascentes,
e os declives e os rios e as
águas correntes.
Foi de certeza Van Gogh o
primeiro homem,
Criado para descobrir as
cores e as tintas e os pincéis,
Para pintar de azul todo o
céu redondo
E todos os mares líquidos
sem barcos,
Sem que houvesse maçãs ou
paraíso,
Para que fosse tempo do
degelo e pudesse surgir a Primavera
Carregada da vida vermelha e
breve das papoilas.
Só depois Picasso terá
pintado a Guernica
E inventado a pólvora
Para que o homem sentisse a
força da tragédia
e a necessidade da guerra,
Ao mesmo tempo que as
andorinhas construíam os ninhos nos beirais
E as cegonhas tratavam das
crias no alto dos pinheiros.
Só mais tarde sobrou tempo
para os deuses,
Quando o homem se julgou ser
superior a todos eles
Passou a adorá-los e
escreveu orações e ritos para os celebrar.
E se sentou à mesa do jantar
Pronto para repartir o mundo
e desenhar países e fronteiras,
Inventou recursos,
Descobriu o fogo,
Fundiu o ferro para fazer
colares para as mulheres
e metralha para os
estilhaços.
E quis só para si todo o pão
que estava sobre a mesa.
[Papoilas, de Van Gogh]
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