Quarenta e três
Quarenta e três!
Quarenta e três é tamanho de
sapato,
Número de sorteio,
Terminação de lotaria.
Sapato rima com carrapato
Sem nada de permeio
Um barco directo para a
Trafaria.
E depois de lá chegados o
que se faria?
Deixava-se a idade
envelhecer p’ra tia?
Amarrava-se o olhar ao
horizonte, à espera do sol que não subia?
E depois?
Aparelhava-se a canga à
junta de bois?
Dormia-se na enxerga despida
de lençóis?
Comia-se à pressa só um pão
e dois rissóis?
Com o tempo o que fizeram de
ti tantas águas mil,
Amorfo e cinzento e inteiro
mês de Abril!
Pararam a música,
Terminou a dança,
Faltou-te a cadeira,
Cortaram-te rente quase toda
a esperança.
Os anos foram-te deixando nua
e sem futuro,
Derrubaram uma parede,
À tua volta ergueram um alto
muro.
Vestiram-te de gravata e
fato escuro,
Uma nítida flor vermelha
Presa com revolta atrás da
orelha.
Um lenço branco
Agitando-te a mão de espanto,
Calando-te a voz com que
quase já nem canto.
Tantos caminhos e tão longos
destinos por tão estreitos percursos,
Tão aplaudidos e tão geométricos
discursos,
Tão farta a pia onde se vêm enfartando
gerações de ursos.
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