25 de abril de 2017

Quarenta e três

Quarenta e três!
Quarenta e três é tamanho de sapato,
Número de sorteio,
Terminação de lotaria.
Sapato rima com carrapato
Sem nada de permeio
Um barco directo para a Trafaria.
E depois de lá chegados o que se faria?
Deixava-se a idade envelhecer p’ra tia?
Amarrava-se o olhar ao horizonte, à espera do sol que não subia?
E depois?
Aparelhava-se a canga à junta de bois?
Dormia-se na enxerga despida de lençóis?
Comia-se à pressa só um pão e dois rissóis?

Com o tempo o que fizeram de ti tantas águas mil,
Amorfo e cinzento e inteiro mês de Abril!
Pararam a música,
Terminou a dança,
Faltou-te a cadeira,
Cortaram-te rente quase toda a esperança.
Os anos foram-te deixando nua e sem futuro,
Derrubaram uma parede,
À tua volta ergueram um alto muro.
Vestiram-te de gravata e fato escuro,
Uma nítida flor vermelha
Presa com revolta atrás da orelha.
Um lenço branco
Agitando-te a mão de espanto,
Calando-te a voz com que quase já nem canto.

Tantos caminhos e tão longos destinos por tão estreitos percursos,
Tão aplaudidos e tão geométricos discursos,
Tão farta a pia onde se vêm enfartando gerações de ursos.




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