16 de março de 2017

Eu não sei já como dizer-te

Eu não sei já como dizer-te. E quanto mais tenho para dizer-te, menos sei como dizer-to, porque se me escapam o teu ouvido atento e o teu olhar sereno. Tenho a boca cheia de palavras, todas à espera. Todas secas, como as areias do deserto, onde não viceja o verde de um carinho. Onde não há sombra que me abrigue ou rio que me refresque. Os pés descalços, sem rumo e sem caminho, porque nada tem nome nem destino. Tudo o que choro são palavras, lágrimas incandescentes caindo-me dos olhos próximos e vazios. Da cor do silêncio de que se há-de fazer o universo.



Sento-me tranquilamente. Com aquela tranquilidade ansiosa de quem espera por nascer. Inteiro, de um só golpe, os olhos abertos para as esquinas que não conhece, as cidades inexistentes e abruptas, o céu por nomear. É indescritível a urgência desta espécie a que o dia me fará pertencer, quando vier. Foi ela a separar os continentes, a dar nome aos oceanos, a inventar a escrita para que ficássemos longe. E existissem corpos sólidos, líquidos e gasosos. Até que Arquimedes viesse devagarinho, por ainda não haver pressa para nada, descobrir a impulsão e o princípio que inventasse os barcos e construísse os portos. Para que houvesse um cais e ali nos pudéssemos encontrar!

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