Eu não sei já como dizer-te
Eu não sei já como dizer-te.
E quanto mais tenho para dizer-te, menos sei como dizer-to, porque se me escapam
o teu ouvido atento e o teu olhar sereno. Tenho a boca cheia de palavras, todas
à espera. Todas secas, como as areias do deserto, onde não viceja o verde de um
carinho. Onde não há sombra que me abrigue ou rio que me refresque. Os pés
descalços, sem rumo e sem caminho, porque nada tem nome nem destino. Tudo o que
choro são palavras, lágrimas incandescentes caindo-me dos olhos próximos e vazios.
Da cor do silêncio de que se há-de fazer o universo.
Sento-me tranquilamente. Com
aquela tranquilidade ansiosa de quem espera por nascer. Inteiro, de um só
golpe, os olhos abertos para as esquinas que não conhece, as cidades
inexistentes e abruptas, o céu por nomear. É indescritível a urgência desta
espécie a que o dia me fará pertencer, quando vier. Foi ela a separar os continentes,
a dar nome aos oceanos, a inventar a escrita para que ficássemos longe. E
existissem corpos sólidos, líquidos e gasosos. Até que Arquimedes viesse
devagarinho, por ainda não haver pressa para nada, descobrir a impulsão e o
princípio que inventasse os barcos e construísse os portos. Para que houvesse
um cais e ali nos pudéssemos encontrar!
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