13 de maio de 2017

Duas lágrimas sobre o orvalho da manhã

Duas lágrimas sobre o orvalho da manhã. O sol atravessando as copas perenes das azinheiras. Algumas nuvens brancas riscando a serra. E quase cem anos de permeio. E tu menina, feliz no teu vestidito novo e pobre de chita barata. Correndo pelo carreiro, quando te é curto o passo, para conseguires acompanhar a marcha de mulheres adultas a quem a tua mãe te confiou: não me percam a rapariga.

Duas imagens e a proximidade a que me ficas, na larga distância dos anos. Da Cova da Iria não resta quase nada, nem o nome. Desapareceu o charco na cova do terreno, as pedras que emolduravam a serra e, mesmo as azinheiras, vão escasseando na beira estreita dos caminhos. Pararam por desuso, ao abandono, os moinhos de vento da Fazarga e da Ortiga.


Hoje fizeram santos os pastorinhos que morreram crianças. Sabes, não é importante. Cada mulher é canonizada com cada filho que dá ao mundo. Aos anos que te tenho neste altar que trago na cabeça, minha Mãe. Apenas por isso te trago aqui!

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