Real academia
Nesta vasta e erudita
academia de iletrados
Há mais inspirados poetas
que leitores
Há perfeitos sonetos mal
acabados
E há até curiosos e
universitários doutores
Publicam-se em redondilha quadras
soltas
Escrevem-se livros com
sentir e mais mensagem
Aos dicionários dão-se
voltas e mais voltas
Na árdua busca da mais folclórica
linguagem
Alguns versos de pé mais partido que quebrado
À mistura com erros de
estilo e de infiel ortografia
E temos o perfil do poeta
bem preparado
Para ser mais um ilustre
membro da academia
Com cadeira e assento fixo,
lugar numerado
E o alto prestígio de um muito
defunto patrono
Já o poeta pode ser sustenido
ou elevado
À sublime condição de rei
sem trono.
Voa alta a muito divina
inspiração
Vem a música suave, o ritmo
e a melodia
Logo a seguir, bem expressivo, vem
o refrão
E, a muitas vozes, o coro
afinado da sacristia.
É o erudito académico muito
solicitado
Para cultos saraus e muitas
entrevistas
Poemas seus incluídos nas
páginas das selectas
E o seu retrato oficial
enche a capa de revistas
Agenda cheia, profere
palestras, dá conferências
Enverga pronto-a-vestir,
fato à medida, usa gravata
As salas cheias do aplauso de
ilustres assistências
E é a crónica social que com
rigor para todos o relata
Alcançada a pouca fama, por
acréscimo vem a glória
A sempre curta fortuna dos
concursos e dos prémios
A bandeira desfraldada e
colorida da vitória
E o olimpo sempre baixo que
apenas cabe aos génios.
0 Comentários:
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial