Portugal é este restito de país
Portugal é este restito de
país, a cair do Cabo de Sagres abaixo. Promontório rochoso que tolheu a marcha
a tantos povos que atravessaram a península. Quando ali se lhes acabou a terra
e o caminho para prosseguirem. Não houve melhor solução do que espalharem-se
pelas praias, de barlavento a sotavento, esperando que não ventasse de levante.
Fugindo à planície alentejana, onde o sol abrasa e escasseia a sombra
protectora do chaparro. Ou ficando pelas serranias de onde descem rios e pelo
meio das formações graníticas, para lá dos montes.
Tantos anos ajudaram a
descobrir mais caminhos, a chegar a sítios que se não sabia que existiam, a ter
mais olhos que barriga. A ser invadido, a depender de terceiros para se
defender, a entregar-.se na mão de iluminados. Sem nunca ser capaz de se
governar ou, sequer, de deixar que alguém, honesto, o fizesse por si. Com o
tempo, e bem, foi desprezando governos e políticos: não são flores que se
cheirem, personagens centenárias da cáustica ironia queirosiana.
Depois, de repente, há a
tragédia em que tudo arde e os políticos se ocupam a discutir a qualidade dos
guardanapos e a assinatura do cozinheiro. E o povo anónimo, o que encheu um
pavilhão que carrega uma vergonha e o outro, a grandessíssima maioria, que
envelhece à sombra da miséria e do desemprego, junta-se como por magia e
manifesta-se solidário. Sempre foi assim. Sempre houve mais a esperar de quem tem
pouco ou não tem nada. Há um frémito que me arrefece a medula e me paralisa os
movimentos. E, por uma vez, sei por que razão este restito de país ainda, de
todo, não caiu de Sagres abaixo!
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