28 de junho de 2017

Portugal é este restito de país

Portugal é este restito de país, a cair do Cabo de Sagres abaixo. Promontório rochoso que tolheu a marcha a tantos povos que atravessaram a península. Quando ali se lhes acabou a terra e o caminho para prosseguirem. Não houve melhor solução do que espalharem-se pelas praias, de barlavento a sotavento, esperando que não ventasse de levante. Fugindo à planície alentejana, onde o sol abrasa e escasseia a sombra protectora do chaparro. Ou ficando pelas serranias de onde descem rios e pelo meio das formações graníticas, para lá dos montes.

Tantos anos ajudaram a descobrir mais caminhos, a chegar a sítios que se não sabia que existiam, a ter mais olhos que barriga. A ser invadido, a depender de terceiros para se defender, a entregar-.se na mão de iluminados. Sem nunca ser capaz de se governar ou, sequer, de deixar que alguém, honesto, o fizesse por si. Com o tempo, e bem, foi desprezando governos e políticos: não são flores que se cheirem, personagens centenárias da cáustica ironia queirosiana.



Depois, de repente, há a tragédia em que tudo arde e os políticos se ocupam a discutir a qualidade dos guardanapos e a assinatura do cozinheiro. E o povo anónimo, o que encheu um pavilhão que carrega uma vergonha e o outro, a grandessíssima maioria, que envelhece à sombra da miséria e do desemprego, junta-se como por magia e manifesta-se solidário. Sempre foi assim. Sempre houve mais a esperar de quem tem pouco ou não tem nada. Há um frémito que me arrefece a medula e me paralisa os movimentos. E, por uma vez, sei por que razão este restito de país ainda, de todo, não caiu de Sagres abaixo!

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