Nada se cria, nada se perde: tudo se transforma!
Conheci pessoalmente Alice Queirós
e Rogério Barbosa há menos de dois anos, numa tertúlia de poesia na Praia da
Granja. Tinha escrito há poucos dias o texto abaixo, tomando como mote o título
de um poema seu, que acho extraordinariamente feliz. Pouco convivemos, tão
curto foi o tempo e tão longo foi o caminho. Mas desde o início que não consigo
separar o casal de namorados adolescentes e cúmplices, simples, despretensiosos,
humanos. De facto “não é por acaso que existe um espaço entre dois braços”. E
que continuará a existir, apesar da interrupção.
Hoje, como tributo simples a
esse conhecimento e a essa amizade, republico o texto. Com uma orquídea para a
Alice e um abraço fraterno para o Rogério.
Não, não é por acaso que
existe um espaço entre dois braços. Não, não é por acaso que os olhos verdes
dos gatos se aconchegam ao conforto morno dos regaços. Não, não é por acaso que
o tempo e a vida se fazem e desfazem em tantos passos e cansaços. Não, não é
por acaso que as curvas da estrada e do destino nos obrigam a frequentes
paragens e compassos. Não é ainda por acaso que uma palavra solta, um suspiro
ou um olhar mais longo nos causam embaraços.
Não é por acaso que tantos
momentos passam tão depressa que não dão tempo para que no desenho se risquem
todos os traços. Os traços rigorosos e perfeitos de um desenho de Cruzeiro
Seixas, o vigor artístico dos braços e o rigor milimétrico dos espaços. Não,
não é por acaso. Não, não é por acaso que a madrugada nos pode tirar o sono e
fazer-nos os sonhos e a lua cheia em pedaços. Não é por acaso que muitas vezes
nos apertam garrotes à garganta e os sentimos com a leveza meiga que aperta os
laços. Porque fica sempre a imensa longitude do espaço entre dois braços. Para
acolher todo o infinito que somos de ternura e dar o aperto necessário a todos
os abraços.
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