9 de setembro de 2018

Onze anos minha Mãe


Hoje queria a tua mão de regresso aos caracóis dos meus cabelos
Mas está um dia de sol
Com o céu azul e um calor como se ainda fosse o mês de agosto
Os meus caracóis desfizeram-se com os ventos da vida
Os cabelos embranqueceram de espanto
E foram rareando na longitude da espera
Não sei nada de ti
Nem como me deixaste num outro domingo de manhã
E dei com a tua face petrificada com silêncio dos meus beijos
Na eternidade que senti no frio eterno do dia seguinte
Mesmo que a tua memória me encha o peito
E me acelere o ritmo cardíaco
Eu estou mais sozinho
Mais entregue à roleta da vida
Como se esta fosse a sala de jogo de um casino onde perco sempre
Deixei de fazer o mesmo caminho todas as semanas
Quando já sabia de cor todas as curvas da estrada
E conhecia todas as árvores que me acenavam das bermas
Mas o caminho deixou de fazer sentido
E entrar numa sala vazia da tua presença
Ocupada por pessoas cada vez mais distantes da vida
Como se o sol fosse deixar de nascer em cada manhã
Olhando-me com um sorriso triste no fundo dos olhos
Encovados e desertos de esperança
Como se eu deixasse de pertencer ao que lhes restava do corpo
E à sombra das árvores do jardim
A que me acolhia com a tua mão magra entre as minhas
Só para ver-te sorrir
A olhar para um melro a passear-se sob o brilho do dia
Procurando alguma semente perdida no verde da relva
E ver ainda a curiosidade quase infantil do teu olhar baço
A seguir-lhe o bico amarelo e os passos inquietos

A beleza antiquíssima e alva dos teus cabelos
Com os caracóis curtos em desalinho
Resistindo à força do vento e ao peso do chapéu
A proteger-te da violência do sol
Comigo a querer-te sempre e só para mim
Estreitar nos braços o teu corpo franzino
Tisnado pelo verão e seco pelo comprimento dos anos
Com a pele enrugada a perder-se na longa distância da idade
Como se afinal nunca houvesse fim para nada
E a eternidade fosse uma caminhada que se faz passo a passo
Voltando-se sempre aos locais onde deixámos a infância



1 Comentários:

Às 3:36 da tarde , Anonymous alfacinha disse...

Que lindo.
Abraços

 

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