Poema escrito por um zangão [*] sobrevoando o marquês de pombal
Começa-se assim o poema pelo
fim
Como nos aviários se criam
as galinhas
Pelo ovo com clara e gema
Como também se começam as
adivinhas
Antes de serem estrelados
Ainda guardados nas
entranhas da pedrês
Com a manteiga já quente na
frigideira do chinês
Veste-se-lhes um colete
amarelo
- E o que seria do cinzento
Se alguém gostasse do
amarelo
Mesmo com sabor vínico a
canela e a martelo –
E abrem-se as portas do
balneário
Como se o Estoril
Mesmo com a cor desmaiada
Se equipasse ao contrário
E usasse jogar no pelado do
campo pequeno
Após cada sorteio para a
taça
E considerados a tangente e
o cosseno
Mobilizam-se todas as forças
que haja
Incluindo a polícia que
adormece
Sentada às secretárias
cambadas da esquadra
Deixando a ramela enferrujar
os gatilhos
Que fugiram de tamancos
Para protegeram a limpeza
dos coletes
E a chatice parda dos
sarilhos
Não venha o caso ainda a
colher
O voo ousado das gaivotas
Que nos estraga o gel do
penteado
Quando a cabeça está ocupada
com a quadratura do círculo
E elas nos sujam as
biqueiras das botas
Mas lá se conseguiu o
objectivo
Com mais facilidade do que
fixar o défice
Ou o coitado do salário
mínimo
E os comentadores vão ter
muito assunto
- com um copo de tinto e um
naco de presunto –
Para encher a antena durante
toda a semana
Incluindo aquele mais pequenote
E mais maneiro no tamanho
Que lá vai tirando a cabeça
do caixote
Difícil foi contar os
elementos da multidão
E assegurar-lhes completa
segurança
Porque se esperava mais de um
milhão
Crescendo ainda a esperança
De contar pelos dedos mais
um montão
Se tivesse chegado a tempo a
camioneta de bragança
E todos juntos enchessem a
rua da betesga
Mas as coisas são como são
E não foi possível somar o tal
milhão
Tão facilmente contados
pelos dedos da mão
[*] – Vulgo “drone”, vocábulo
do português ultramoderno, um século depois do acordo ortográfico continuar a aguardar
promulgação de todos os subscritores.
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