Escrevo amigo com apenas cinco letras
Escrevo amigo com apenas
cinco letras
E ficam-me todas as outras
para emoldurar a palavra
E rodeá-la de folhas flores
e frutos
Estender as mãos e os dedos
Abrir os braços
Cruzar distâncias e
construir navios
Quando te conheci ainda não
havia escrita
Nem cores nem raças nem
religiões
E a brancura dos teus dentes
Iluminava-te o sorriso como
se o sol nascesse
Nas quilhas frágeis que
abriram o mediterrâneo
Aos fenícios e aos
cartagineses
Para que o nilo pudesse ser
o rio que é
Tão longo como o abraço que
nos une
E tão estreito como a
distância que nos separa
Mesmo depois de inventarem
mares e continentes
E planetas longínquos
E estrelas para além deles e
desta luz que nos brilha nos olhos
Ainda hoje quando escrevo
amigo
Também escrevo cadeira e
prato e peixe
E me sobram todas as
palavras
Quando te sentas à mesa
De olhar doce e braços nus
Como se do mar nos chegasse
o cheiro a maresia
E a cor única das acácias
que nos perfumaram a infância
Tens os pés descalços
Pousados sobre a areia fina
Onde não chega a fúria das
calemas
Mas se sente a brisa fresca
afagando as casuarinas
E o voo dos pássaros no
regresso a casa
Ao fim do dia é ainda este
sentimento que fica
Este silêncio de veludo que
nos aconchega
Este sussurro que nos amacia
o olhar
E nos entra pelos ouvidos
como se fosse uma balada
Quando nas mãos da noite
Chegam os sapatos de cristal
Que vão cobrir os teus pés
simples de princesa
Porque a amizade é esta
claridade de todos os momentos
Estas mãos e estes dedos
E este calor da noite que se
estende pelo caminho
Que percorremos lado a lado
Como se fossem infinitas
todas as horas
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