MULHER
No teu ventre reside a longa
memória
De todo o passado que não
conhecemos
Agita-se a incerteza do duro
presente
Com que temos de conviver dia
a dia
Repousa a breve esperança
Do futuro que vamos deixar
às gerações ainda por vir
Não chegaram até nós nenhuns
vestígios
Do princípio de nada
Nem do verbo que foi o
princípio de tudo
Nem de todas as civilizações
Que descobriram as primeiras
grutas
Onde se abrigaram das
grandes tempestades
Quando eram planos todos os
dias e todos os planetas
E nem a lua – quem sabe –
tinha ainda sido descoberta
A antiguidade de que sabemos
menos do que pouco
Fica logo ali adiante ao
virar da esquina
A poucos e curtos milhares
de anos
Porque todos nós andámos na
escola
Com fenícios e cartagineses
Que tinham os pais
embarcados
Desenhando o recorte das
costas do mediterrâneo
A beleza excessiva e fatal
de cleópatra
É-nos tão familiar como a
bravura de alexandre magno
E nada admira que marco antónio
se lhe tenha rendido
Com a facilidade de quem
troca a camisa por um berlinde
Ou faz rodopiar um pião no
centro do terreiro
E no princípio de tudo
afinal o verbo eras tu
O mundo inteiro crescendo no
teu ventre
O peso do universo
curvando-te o dorso
O conforto do calor morno no
teu colo
Um sorriso fresco nos teus
lábios finos
Sem uma lágrima furtiva
escorrendo-te pela face
Nem queixa nem lamento
Mulher inteira e toda
Mãe e filha
Amante e esposa
Razão e sentimento
Coração e diligência
A parte e o todo
Heróica mãe coragem e os
seus filhos
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