8 de março de 2020

MULHER


No teu ventre reside a longa memória
De todo o passado que não conhecemos
Agita-se a incerteza do duro presente
Com que temos de conviver dia a dia
Repousa a breve esperança
Do futuro que vamos deixar às gerações ainda por vir

Não chegaram até nós nenhuns vestígios
Do princípio de nada
Nem do verbo que foi o princípio de tudo
Nem de todas as civilizações
Que descobriram as primeiras grutas
Onde se abrigaram das grandes tempestades
Quando eram planos todos os dias e todos os planetas
E nem a lua – quem sabe – tinha ainda sido descoberta



A antiguidade de que sabemos menos do que pouco
Fica logo ali adiante ao virar da esquina
A poucos e curtos milhares de anos
Porque todos nós andámos na escola
Com fenícios e cartagineses
Que tinham os pais embarcados
Desenhando o recorte das costas do mediterrâneo
A beleza excessiva e fatal de cleópatra
É-nos tão familiar como a bravura de alexandre magno
E nada admira que marco antónio se lhe tenha rendido
Com a facilidade de quem troca a camisa por um berlinde
Ou faz rodopiar um pião no centro do terreiro

E no princípio de tudo afinal o verbo eras tu
O mundo inteiro crescendo no teu ventre
O peso do universo curvando-te o dorso
O conforto do calor morno no teu colo
Um sorriso fresco nos teus lábios finos
Sem uma lágrima furtiva escorrendo-te pela face
Nem queixa nem lamento
Mulher inteira e toda
Mãe e filha
Amante e esposa
Razão e sentimento
Coração e diligência
A parte e o todo
Heróica mãe coragem e os seus filhos

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