16 de fevereiro de 2024

Subir ao Pico do Arieiro

Saber as coordenadas, subir ao Pico do Arieiro, ver-me no cume do mundo, a 1818 metros de altitude, nem mais, nem menos. Sentir o rosto vergastado pelo vento rijo, engelhar-se-me a pele nos braços descobertos, encolher-me como se isso me protegesse do frio. Que longa visão, que magnífica paisagem toda povoada de montanhas e de silêncio. Ouvir-te esse olhar fresco, tórrido de ternura, pairando acima das nuvens, total brancura de cúmulos dispersos pelo céu abaixo, sem perigo de chuva. Acima só o sol e o mar à volta, largo como tudo, tão expressivo como todas as palavras que não preciso de dizer-te.

Só uma música, tão de todos que é apenas nossa, é tão eloquente como o pico e as nuvens abaixo. Chorando um lamento em cada corda de uma guitarra portuguesa, nas pontas de uns dedos que ainda não ganharam comparação. Só os Verdes Anos podem acompanhar a confiança da minha mão estendida para o sol, encurtando distâncias, abrindo caminhos pelo fresco das levadas. Façamo-los, com a água límpida correndo com a mesma melodia, seguindo ao mesmo ritmo a que me bate o coração apressado. Só Carlos Paredes, fazendo hoje 99 anos, perturba esta magnífica visão e lhe acrescenta este sentido sublime, pairando acima do pico e das montanhas.

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