13 de novembro de 2003

Eça de Queiroz, Maio de 1871

A opinião tem pela Câmara dos Deputados um sentimento unânime, e unânimemente declarado: o tédio. Diz-se mal da Câmara por toda a parte. Os jornais mais sérios falam constantemente da sua improdutividade. Aparecem contra ela panfletos satíricos. Ela é geralmente considerada como um sórdido covil de intrigas. Se se pergunta:
- Que houve hoje na Câmara?
- Uma farsa – respondem uns.
- Uma feira – respondem outros.

Os jornais políticos vêm cheios destas fórmulas: “A Câmara ontem deu um espectáculo triste para quem preza os verdadeiros princípios...”. “A Câmara está oferecendo a prova da sua falta de independência...”. “A Câmara salta por cima dos princípios mais rudimentares da administração.”
- O parlamento é uma vergonha – diz-se nos cafés.
- Vamos aos touros! – exclama-se nas galerias (textual).
- Amanhã há escândalo! – murmura-se na véspera das sessões.

Fazem-se-lhe epigramas, põem-se-lhe alcunhas. Os folhetins escarnecem-na; os jornais de notícias contam com uma singeleza dramática: “Ontem a sessão passou-se em injúrias pessoais.”

in "Uma campanha alegre"

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial