15 de novembro de 2003

A esta hora, com os jornais ainda por ler

Fui hoje para o meu dia no campo esperando um dia de sol. Tranquilo, como são os dias de outono, com as folhas das árvores a cairem, vencidas pelo vento que às vezes nos sopra de leste. Comprei os jornais do costume antes da partida mas, até agora, ainda nem sequer os cheguei a folhear.

Apenas ao almoço, enquanto esperava por umas febras grelhadas com arroz e salada, dei meia vista de olhos ao jornal que a casa tinha disponível. Um jornal que não uso, cheio de letras muito grandes na primeira página e anúncios com letras muito pequeninas em algumas das páginas interiores.

E, no meio, lá vinham como lenitivo para o meu tão abalado orgulho de ser português. As fotografias do “jet set” nacional em festa de arromba nas terras de sua magestade a raínha Isabel II. Primeiro o Zé Castelo Branco, sempre ele, a confraternizar com um rapaz alto e forte, com aspecto de mineiro, que terá tido por uma das suas últimas actividades ser amante da malograda princesa Diana. Ali os dois, lado a lado, tu cá tu lá, trocando cartões de visita e princesas assim mesmo, à ganância. Sempre o mesmo finório, o Zé, que nem percebo como fala ele inglês. Que na escola, lembro-me como se fosse ontem, soletrava as palavras, engolia em seco metade das sílabas e lançava-nos perdigotos quando pronunciava as sílabas tónicas. Para escrever o nome utilizava a sua Bic cristal, de ponta romba e cristal lascado, que lhe borrava as letras e enfarruscava os dedos para o resto da semana. Agora – o que lhe não valeu a Betty! – fala inglês melhor que o Dr Mário Soares, anda de braço dado com o sacana do mineiro que se deitava com a princesa e, se calhar, ainda vai cometendo as suas infidelidades.

Quanto a escritas, estou mesmo a vê-lo, a usar uma Dupont banhada a ouro, qual banhada a ouro, em ouro de lei, de dezoito quilates, com contraste e tudo, suave como uma pena. A adivinhar-lhe as intenções e a desenhar-lhe as letras uma a uma, antes dele as pensar. A passar cheques, em dólares que é uma moeda esquisita assim como o euro, que dizem que vale muito mas que se gasta muito depressa, sem render nada.

Noutra fotografia o tia Paula Bobonne de braço dado com “sir” Roger Moore, 007 aposentado, com período de validade expirado, parecendo-se assim com um achado arquelógico das escavações de Conimbriga. Um género de Lili Caneças, no masculino, mas sem as quarenta e oito intervenções cirúrgicas que esta fez nos últimos dezoito meses, para parecer apenas cinco anos mais velha do que a Sé de Coimbra. Ela, a Paula, também não terá já os seus dezoito aninhos, mas não deixa de ser um borracho ao lado da antiguidade. E, quanto a etiqueta e às respectivas regras, certamente que muito o “sir” vai ainda aprender com a tia. Que ela é um autêntico livro aberto!

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