A soberania sobre águas territoriais
Ontem – muitas vezes sou assim, um bocado devagarinho a reconhecer às coisas a importância que elas de facto têm – o jornal onde o Sr. José Manuel Fernandes é director, trazia na primeira página uma fotografia e noticiava um facto que são um contributo decisivo para a restauração e a racauchutagem do meu orgulho de português – o que tende a acontecer ainda muito mais devagarinho do que ver as coisas de um dia para o outro.
A fotografia era de um navio enorme, ainda que as suas dimensões fossem beneficiadas pela perspectiva, mas era enorme. Que, segundo se dizia, é sucata, condição que naturalmente o não reduz ao porte da formiga. E então este e outro, dois navios, tinham ousado, sem autorização prévia, entrar em águas territorias nacionais no arquipélago dos Açores, na sua rota para o país do Sr Blair a fim de serem desmantelados.
A situação foi detectada e, como num país onde as coisas funcionam, as autoridades foram advertidas. Desde o comandante do porto de Ponta Delgada ao responsável autónomo pelo sector. Do presidente do governo regional à assembleia regional. Do oficial de dia ao chefe do estado maior da marinha. Deste para o ministro e deste até para o primeiro ministro. De permeio, minutos e horas que decorreram, centenas de telefonemas que se fizeram, decisões que se esperaram, mensagens cifradas até, que circularam.
Eram doze horas e vinte minutos, notem bem. Uma corveta nacional, a bandeira desfraldada à brisa húmida da maresia, aproximou-se rapidamente dos mastodontes. Correndo, à cautela, não fosse escorregar na água das ondas que se espalhava pelo convés, uma ordenança levou ao comandante um megafone pintado de fresco e com pilhas novas. Da ponte, digno e altivo, com atitude imperial e irreversível, este deu ordem de expulsão aos invasores. Depois, em surdina, murmurou: nas nossas águas não!
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