14 de novembro de 2003

A eterna tendência para o improviso e para a insensatez

Miguel Sousa Tavares diz hoje que Durão Barroso é, definitivamente, um homem de sorte na política. Bastaria que o contingente da GNR, cuja partida para o Iraque foi tantas vezes adiada, tivesse acabado por partir um dia mais cedo, e hoje ele estaria com uma série de cadáveres nos braços. Lá, onde morreram os italianos, era exactamente onde os portugueses deveriam estar, acabados de chegar. Nem na roleta se consegue um golpe destes.

Mas, para bem deles – e nosso – a partida foi quando foi, depois da tragédia que não tem de inesperado tanto quanto se possa querer fazer acreditar. O curso dos acontecimentos e a consumação da partida era, no momento, de todo inevitável. Mas já era evitável – ou mesmo desaconselhado – que os diversos orgãos da comunicação social quisessem acompanhar aquele contingente passo a passo, minuto a minuto, como se lhes controlassem morbidamente todos os movimentos.

A intenção acabou atropelada no Kuwait onde os jornalistas foram impedidos de acompanhar o contingente da GNR Iraque dentro, até ao seu destino imediato. De forma insensata a decisão não foi ponderada, muito menos acatada. E, ainda no mesmo dia, os jornalistas puseram-se a caminho e atravessararam a fronteira por sua conta e risco. Não tardou que se verificassem problemas que o destino se terá encarregado de resolver, felizmente, sem danos. Mas a noite avançara e decidiu-se pelo regresso ao ponto de partida. Das trevas tinha afinal saído o primeiro e único sinal de ponderação.

Assim como a luz de um outro dia trouxe de novo ao palco a insensatez da arrogância e do improviso. E os profissionais da comunicação, em carros novos e brilhantes, por sua conta e risco, fazem-se outra vez à estrada. À procura de que notícias, em busca de que glória? Os resultados estão desgraçadamente à vista. E são eles, os jornalistas, a notícia trágica que nos chega. Sem que possamos saber como e quando o atrevimento terá desfecho. Que, naturalmente, desejamos feliz!

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