5 de fevereiro de 2004

O orgulho nacional e a ousadia espanhola

S. Julião da Barra: é lá o centro de operaçõesNão era de esperar outra coisa. Toda a vida tenho ouvido dizer que, de Espanha, nem bom vento, nem bom casamento. Dito com a sabedoria popular que a escola não ensina e que, por mais que uma vez, tive oportunidade de confirmar. Uma vez, andava eu a pé, junto à margem do rio Minho, em Monção, veio uma ventania do lado de lá que levou pelo ar toda a roupa que estava a secar às janelas e voaram as tendas que os campistas tinham montado, com tanto gosto, quase mesmo junto à margem. De outra um amigo meu decidiu-se por ir a Vigo fazer compras aos saldos do Corte Inglês e aproveitou para ir ver o Celta para saber como era possível que uma equipa de galegos pudesse aviar o Benfica de sete a zero. Conheceu uma chica, tomou-se de amores, dois meses e estava casado. Outros dois e já ele era corno, com tudo o que pertence, incluindo as hastes. Portanto, nunca fiando.

Agora, à sorrelfa, as diligentes e vigilantes autoridades açorianas, detectaram num barco de pesca espanhol que foi ao porto para meter gasóleo, licenças de pesca emitidas pelo governo espanhol. Ilegalmente e sem dizerem nada a ninguém. O assunto foi superiormente comunicado a quem devia ser: ao comandante do porto, ao comandante dos bombeiros, ao chefe da brigada fiscal, ao presidente do governo regional e ao ministro da defesa. Como sempre as autoridades envolvidas demonstraram de novo a sua eficiência e a notícia veio apanhar o ministro da defesa ainda na cama, envergando um pijama de cetim azul celeste.

Mais que alvoroço a notícias caiu como uma bomba e gerou de imediato o pandemónio. O ministro levantou-se a gesticular e aos berros, enquanto vestia por cima do pijama um robe de pano turco em tons de verde alface. Passou a correr pela casa de banho, mais modesta do que a que o Dr Carrilho mandou fazer no ex-gabinete dele, a tirar a ramela dos olhos e mandou convocar os chefes de estado maior e a D Cinha Jardim, sua assessora para determinados assuntos de logística.

Um submarino vai subir o GuadalquivirEstão todos, nesta altura, reunidos à volta de uma mesa grande sobre a qual se espalham mapas escolares, cartas militares, manuais de estratégia, o regulamento de disciplina militar, cinzeiros de vidro a transbordar de beatas e até mesmo uma pasta de documentos para despacho que lhe trouxe ontem o seu chefe de gabinete a propor a admissão de meia dúzia de assessores de cujo apoio ele está muito carecido. A D Cinha anda fora e dentro, num corrupio, a trazer-lhe chávenas de chá preto e comprimidos de bem-u-ron para a enxaqueca e para as dores. Quis dar-lhe primeiro chá de tília, o ministro recusou. Que o acalmava, lhe reduzia a agressividade guerreira o poderia transformar em presa fácil para qualquer soldado castelhano, sem galões e sem medalhas.

Contam-se aviões, canhonheiras, submarinos e armas em geral. Verifica-se o prazo de validade das munições e confirmam-se os stocks de combustíveis. Escolhem-se itinerários, sítios para vencer os rios, locais para as emboscadas. Certifica-se que toda a infantaria tem calçado em bom estado, para aguentar a longa marcha. Pedem-se bandeiras nacionais, novas e grandes, que possam ser içadas nos mastros das fortalezas conquistadas, como sinal drapejante de soberania. A decisão sobre a invasão é unânime, a mesma está eminente. Nem vai dar tempo para instruir o embaixador no sentido de que regresse a Oeiras e se entretenha pelo Cascais Shopping enquanto o assunto se resolve.

Consulta-se finalmente e pela última vez o manual de estratégia do Sr Raúl Solnado que, no país, é ainda quem mais sabe de guerras. Decide-se contrariar as suas posições e não aguardar pelo fresco da manhã. É tempo de inverno, o tempo está macio, sem chuva, sem vento e com nuvens altas. Vai aguardar-se pelo crepúsculo para desencadear a operação, à noite todos os gatos são pardos, ninguém nos vê. Os espanhois estão fodidos!

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