A solidariedade com a Noruega
A ideia que os portugueses antigamente tinham da Noruega era a de ser uma terra no cu de judas, a que faziam o favor de chamar país, quase a chegar ao polo norte, onde andava tudo às avessas. Era de noite quase todo o ano, via-se gelo e pinguins em todas as fotografias e os noruegueses pareciam múmias em tamanho grande, calçando botas altas e embrulhados em casacos de peles. Sabia-se que chamavam trenós aos carros e que estes não tinham nem rodas nem motor, sendo puxados por cães. O sol, quando lhe dava para isso, aparecia à meia noite e apanhava as pessoas a dormir, não servindo para nada, nem para ir para a praia. Gente pobre, coitada! Falavam uma língua que nem ao diabo havia lembrado e não tinham nem fado, nem vinho. E de certeza que futebol também não porque ninguém ia semear relva no gelo e depois jogar sempre de noite, se calhar à luz mortiça de meia dúzia de candeeiros a petróleo.
Depois soube-se um pouco mais quando o Algarve começou a plantar prédios nos sítios das figueiras e os donos iniciaram o aluguer dos apartamentos no verão para comporem o orçamento familiar. Começaram, por essa época, a aparecer pela praia da Manta Rota umas calmeironas grandes como o caraças, de olhos azuis e muito estúpidas de tão louras, que ninguém entendia. Nem o Zézé Camarinha, que estava em início de carreira, a cumprir estágio, se aventurou apesar dos seus varonis dezoito anos. Com elas não se podia ir nem aos figos que os apanhavam todos e a gente tinha que ficar à espera que secassem os que caíam ao chão.
Hoje os portugueses estão mais informados e sabem mais qualquer coisa. Sabem que para além do que havia antigamente ainda há bacalhau a dar com um pau que eles, todos juntos, não conseguem comer. Como ficaram um bocado mais espertos, o que sobra vendem-no para Portugal onde os descendentes do almirante Tenreiro o armazenam e, por sua vez, o vendem às mercearias e aos supermercados que depois, a nós, consumidores que mantemos o vício, nos levam o couro e o cabelo por cada quilo. Salgado e cortado às postas.
Foi esta Noruega que o Dr Jorge Sampaio resolveu ir visitar para ver se lhes dá uma ajuda, coitados, que nem à Europa pertencem nem usam o euro como nós. Fez bem! Não percebemos é para que é que levou tanta gente com ele se lá faz um frio que nem te digo. Dizem que foi para o negócio mas também pode ser um problema se eles só pagam em bacalhau. E o jornal ainda dizia que houve negociantes de bacalhau que ficaram amuados por não terem sido incluídos na comitiva. Nem sei porquê, se aquilo nem se deve parecer nada com Cancun!
O que eu soube agora, pelo jornal, é que eles têm mais de três vezes a superfície de Portugal - em gelo, está visto! - e são cerca de metade dos que nós somos. Aquilo é um deserto, mas de gelo. Toda a gente sabe ler e escrever, o que é esquisito. Se o ministro da educação deles fosse igual ao nosso nem escolas havia. Com aquela gente tão espalhada só deve haver escolas com menos de dez alunos e o Dr David Justino acha que essas não dão rendimento e, por isso, devem ser encerradas. A capital, Oslo como fui obrigado a aprender em geografia, tem menos habitantes do que a Amadora e, coitados, não têm nenhum estádio de jeito, enquanto nós temos aí dez à espreita para o Euro 2004 e para a porrada. Não têm auto-estradas e, apesar de terem evoluído um bocado, muitos ministros deles nem doutores são e nem ganham para andar de automóvel. Têm de andar a pé e de transportes públicos. Mas acho que os devemos ajudar, se já ajudamos Timor e a Guiné Bissau. Assim talvez consigam entrar para a Europa e receber umas coroas - euros, queria eu dizer! - valentes em subsídios, como nós recebemos. Para fazerem a mesma coisa que nos fizemos e as estourarem em vivendas, automóveis Porsche e garrafas de champanhe nas capelinhas do Cais do Sodré.
Depois soube-se um pouco mais quando o Algarve começou a plantar prédios nos sítios das figueiras e os donos iniciaram o aluguer dos apartamentos no verão para comporem o orçamento familiar. Começaram, por essa época, a aparecer pela praia da Manta Rota umas calmeironas grandes como o caraças, de olhos azuis e muito estúpidas de tão louras, que ninguém entendia. Nem o Zézé Camarinha, que estava em início de carreira, a cumprir estágio, se aventurou apesar dos seus varonis dezoito anos. Com elas não se podia ir nem aos figos que os apanhavam todos e a gente tinha que ficar à espera que secassem os que caíam ao chão.
Hoje os portugueses estão mais informados e sabem mais qualquer coisa. Sabem que para além do que havia antigamente ainda há bacalhau a dar com um pau que eles, todos juntos, não conseguem comer. Como ficaram um bocado mais espertos, o que sobra vendem-no para Portugal onde os descendentes do almirante Tenreiro o armazenam e, por sua vez, o vendem às mercearias e aos supermercados que depois, a nós, consumidores que mantemos o vício, nos levam o couro e o cabelo por cada quilo. Salgado e cortado às postas.
Foi esta Noruega que o Dr Jorge Sampaio resolveu ir visitar para ver se lhes dá uma ajuda, coitados, que nem à Europa pertencem nem usam o euro como nós. Fez bem! Não percebemos é para que é que levou tanta gente com ele se lá faz um frio que nem te digo. Dizem que foi para o negócio mas também pode ser um problema se eles só pagam em bacalhau. E o jornal ainda dizia que houve negociantes de bacalhau que ficaram amuados por não terem sido incluídos na comitiva. Nem sei porquê, se aquilo nem se deve parecer nada com Cancun!
O que eu soube agora, pelo jornal, é que eles têm mais de três vezes a superfície de Portugal - em gelo, está visto! - e são cerca de metade dos que nós somos. Aquilo é um deserto, mas de gelo. Toda a gente sabe ler e escrever, o que é esquisito. Se o ministro da educação deles fosse igual ao nosso nem escolas havia. Com aquela gente tão espalhada só deve haver escolas com menos de dez alunos e o Dr David Justino acha que essas não dão rendimento e, por isso, devem ser encerradas. A capital, Oslo como fui obrigado a aprender em geografia, tem menos habitantes do que a Amadora e, coitados, não têm nenhum estádio de jeito, enquanto nós temos aí dez à espreita para o Euro 2004 e para a porrada. Não têm auto-estradas e, apesar de terem evoluído um bocado, muitos ministros deles nem doutores são e nem ganham para andar de automóvel. Têm de andar a pé e de transportes públicos. Mas acho que os devemos ajudar, se já ajudamos Timor e a Guiné Bissau. Assim talvez consigam entrar para a Europa e receber umas coroas - euros, queria eu dizer! - valentes em subsídios, como nós recebemos. Para fazerem a mesma coisa que nos fizemos e as estourarem em vivendas, automóveis Porsche e garrafas de champanhe nas capelinhas do Cais do Sodré.
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