O dia internacional da mulher

Achamos, pessoalmente, uma bizarria esta história do dia mulher, do dia da criança, do dia do idoso, do dia da solidariedade. Parece-se assim com uma velha questão religiosa que permitia comer carne no decurso da Quaresma desde que se adquirisse a respectiva bula. Dá a sensação de que tratando hoje bem todas as mulheres, convidando-as para jantar, dando-lhes flores, escrevendo poemas que lhes dedicamos, nos desobrigamos de continuarmos a fazer o mesmo durante os 364 dias que se seguem, em que poderemos agir livremente.
Mais do que ridículo parece-nos inteiramente desonesto reservar às mulheres um número determinado de lugares aos mais diversos níveis, nomeadamente político, que pura e simplesmente não serão cumpridos. É igualmente desonesto que lhes reservem tarefas idênticas às dos homens e se lhes pague remuneração inferior. Como o é também esperar ter com elas o prazer de fazer um filho e depois ficar tranquilamente a aguardar que ultrapassem as dores do parto, dêem banho à criança, a alimentem, a vistam para a escola e lhe revejam os deveres escolares.
É de facto difícil, senão impossível, esperar que algum dia venha a haver situações de consenso social seja sobre o que for. Quando numa comunidade elementar, composta apenas por duas pessoas, cuja única diferença é terem sexos diferentes, vai a desigualdade que se conhece. Mais do que enaltecer as qualidades da mulher num dia determinado, este deveria constituir uma oportunidade única para um necessário acto de contrição e para a correcção de erros que têm a mesma idade da espécie. E que, pelo andar da carruagem, tendem apenas a desaparecer com ela, por muito que se repita o contrário.
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