O estranho caso das crianças para o Euro 2004
Portugal tem a rara felicidade histórica de ser dirigido por predestinados. Sempre dedicados, convictos, eficientes e capazes. Desde sempre sem dúvidas e muito raramente com enganos. No decurso da sua década o professor Cavaco limitou-se a vir dizê-lo à turba, utilizando um megafone. Mas já é assim desde a batalha de São Mamede. D. Afonso Henriques não foi mau filho. Ao invés a história assegura que até foi um bom filho e, quando se opôs à mãe, fê-lo apenas por desígnio superior.
Ainda ontem uma conhecida estação de rádio fez eco de um protocolo entre a Câmara Municipal de Lisboa e a Mac Donald's contemplando a selecção de crianças para entrarem em campo conjuntamente com as equipas no decurso do Euro 2004. Que excluía todas aquelas que pudessem ser portadoras de qualquer tipo de deficiência, física ou mental. Questionada sobre o assunto a Sra vereadora responsável salientou que isso eram exigências das normas da UEFA que, obviamente, se sobrepunham às posturas municipais. E que, sendo assim, não havia nada a fazer. Mas anunciou também, solene e magnânima, que iriam ser adquiridos bilhetes para crianças deficientes. Quer dizer, limitou-se a revelar-nos que os presidentes da Uefa e da Câmara Municipal de Lisboa são uma e a mesma pessoa.
Hoje, depois de meio mundo ter andado a berrar sobre o assunto, a mesma Sra vereadora veio a público anunciar que tinha havido apenas um lapso e que, depois de se ter apercebido da situação, prontamente denunciou o protocolo. A Sra vereadora não teve dúvidas, a Sra vereadora não se enganou. Sua excelência limitou-se a cometer um ligeiro e insignificante lapso. O que faz, fá-lo por desígnio do Altíssimo, assegurando os padrões de desempenho tão característicos do país
A Uefa e a Mac Donald's emitiram também, sobre o assunto, um comunicado conjunto. Ambas devem ser, para felicidade sua, dirigidas por portugueses. Nunca houve nenhum tipo de exclusão em relação às crianças a seleccionar. Nem quanto à raça, embora se dê preferência à branca, nem quanto à religião, embora seja recomendável evitar islamitas, nem quanto ao clube da sua preferência, embora seja recomendável que este pertença ao sistema de que fala o Dr Dias da Cunha. A mesma liberdade foi assumida quanto às aptidões físicas ou mentais. Apenas se pretende que as crianças sejam capazes de correr os cem metros em onze segundos, saltar oito metros em comprimento e ultrapassar a fasquia a dois metros no salto em altura. E que, mentalmente, sejam capazes de calcular o volume da esfera e resolver a quadratura do círculo. Numa palavra, que sejam portuguesas!
Ainda ontem uma conhecida estação de rádio fez eco de um protocolo entre a Câmara Municipal de Lisboa e a Mac Donald's contemplando a selecção de crianças para entrarem em campo conjuntamente com as equipas no decurso do Euro 2004. Que excluía todas aquelas que pudessem ser portadoras de qualquer tipo de deficiência, física ou mental. Questionada sobre o assunto a Sra vereadora responsável salientou que isso eram exigências das normas da UEFA que, obviamente, se sobrepunham às posturas municipais. E que, sendo assim, não havia nada a fazer. Mas anunciou também, solene e magnânima, que iriam ser adquiridos bilhetes para crianças deficientes. Quer dizer, limitou-se a revelar-nos que os presidentes da Uefa e da Câmara Municipal de Lisboa são uma e a mesma pessoa.
Hoje, depois de meio mundo ter andado a berrar sobre o assunto, a mesma Sra vereadora veio a público anunciar que tinha havido apenas um lapso e que, depois de se ter apercebido da situação, prontamente denunciou o protocolo. A Sra vereadora não teve dúvidas, a Sra vereadora não se enganou. Sua excelência limitou-se a cometer um ligeiro e insignificante lapso. O que faz, fá-lo por desígnio do Altíssimo, assegurando os padrões de desempenho tão característicos do país
A Uefa e a Mac Donald's emitiram também, sobre o assunto, um comunicado conjunto. Ambas devem ser, para felicidade sua, dirigidas por portugueses. Nunca houve nenhum tipo de exclusão em relação às crianças a seleccionar. Nem quanto à raça, embora se dê preferência à branca, nem quanto à religião, embora seja recomendável evitar islamitas, nem quanto ao clube da sua preferência, embora seja recomendável que este pertença ao sistema de que fala o Dr Dias da Cunha. A mesma liberdade foi assumida quanto às aptidões físicas ou mentais. Apenas se pretende que as crianças sejam capazes de correr os cem metros em onze segundos, saltar oito metros em comprimento e ultrapassar a fasquia a dois metros no salto em altura. E que, mentalmente, sejam capazes de calcular o volume da esfera e resolver a quadratura do círculo. Numa palavra, que sejam portuguesas!
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