Porto: Terreiro da Sé e Casa dos 24
Recordo-me de uma ladaínha antiga e pateta que dizia mais ou menos o seguinte: o Porto trabalha, Coimbra estuda, Lisboa diverte-se. Na verdade os portugueses, e particularmente os portuenses, nunca tiveram grande vocação para o trabalho. Mesmo que as pessoas se não cansem de repetir nas ruas, nas idas ao Continente e nos empregos que adoram trabalhar e que não conseguem viver sem ele, o trabalho. Não é também verdade que em Coimbra se estude. Antigamente passava-se mal nas repúblicas académicas, bebia-se até onde as tabernas fiavam e cantavam-se o fado arrastado como fazia o Xabregas, Quanto ao estudo, se houver dúvidas, estão aí, publicadas pelo ministro Justino, com a credibilidade que ele merece, as notas a Português e a Matemática, igualmente más, de Monção a Vila Real de Santo António. Nem sequer Lisboa se diverte, porque o não sabe fazer. Nunca ninguém deu por António Chapallimaud a entrar de fraque para o casino, para um jantar e para dois passos de um tango argentino. Poderá parecer hoje que se divertem a Lili Caneças e a Cinha Jardim, mas é mentira. Elas pensam que sim mas não ultrapassam a intenção, invariavelmente frustrada, de tentar exibir-se.
O português é um híbrido histórico que abomina o trabalho e que foge dele como dizem que o diabo foge da cruz. Apesar disso cultiva a tendência parva de fazer de rico e viver empenhado cada hora de vida. Mesmo representando sempre o contrário, guardando na garagem um automóvel mais caro do que o do vizinho, comprando sapatos a prestações na Charles e indo aos saldos do Cortefiel. O país segue-lhe os passos, com grandes projectos e, naturalmente, grandes desgraças. Não vale a pena alinhar de novo os orçamentos e os investimentos reais feitos com o Centro Cultural de Belém, a Expo 98 ou os dez estádios de futebol do nosso descontentamento. Basta atentar no Orçamento Geral do Estado, com a Manuela Ferreira Leite ou com o Pina Moura, que vai dar ao mesmo. Mais ponto, menos ponto, o orçamento é deficitário e, mesmo assim, à custa de vigarices criativas cozinhadas nos bastidores.
As regiões são, quanto a isto, parte integrante do país. Com referendo ou sem ele, por mais que Fernando Gomes - o da política - se sinta orgulhoso não sei de quê, o norte e particularmente o Porto alinham pela mesma pauta de solfejo. O Porto obteve o estatuto de património mundial e Fernando Gomes, se ouvir alguém dizê-lo, há-de espetar o dedo no ar e dizer alto e bom som que foi ele que o conseguiu. Mas o Porto é uma cidade despovoada, decrépita, com casas fechadas, ao abandono, e prédios em ruínas. Nenhum património mundial lhe vale e os autarcas vão prometendo a revitalização da baixa sem saberem do que falam e muito menos como consegui-lo.
Os últimos anos deixaram-nos casos emblemáticos, pela incompetência e pelo surrealismo, com que se desenvolveram alguns projectos. Já aqui se falou da Porto 2001 cujo ex-libris, a Casa da Música, há-de estar pronta, se chegar a estar, em 2004, depois de decorridos mais três anos e muitos mais milhões de euros. Pedro Burmester até já foi reformado e vai ocupar-se a tocar piano em lares para a terceira idade. Do mesmo modo se referiram as requalificações de algumas ruas, que já estão piores do que antes, um chamadao edifício transparente - que é opaco em tudo, até nos propósitos -, o elevador dos Guindais - cognominado de funicular que é mais "in". E hoje, porque passei por lá, o mamarracho que aí vai na ilustração, um caixote de betão, ao alto, com projecto do arquitecto Fernando Távora, implantado no Terreiro da Sé. Nunca se soube bem para o que iria servir, o que contava era construí-lo. Não tem nada a ver, em termos de enquadramento, com o Paço Episcopal, com a Sé ou com o Pelourinho, que ocupam o mesmo espaço. É um caixote ao alto, com uma janela em cima e uma porta em baixo. Fechadas. A evidenciar a degradação inclemente trazida por chuvas fortes e ventos agrestes. No estado em que estão as obras do Metro do Porto, a caminho de Gaia, o edifício bem poderia servir as necessidades do estaleiro próximo. Porque é que a Câmara o não aluga? Assim por assim, chamar-lhe Casa dos 24 ou Casa da Câmara não faz sentido nenhum.
O português é um híbrido histórico que abomina o trabalho e que foge dele como dizem que o diabo foge da cruz. Apesar disso cultiva a tendência parva de fazer de rico e viver empenhado cada hora de vida. Mesmo representando sempre o contrário, guardando na garagem um automóvel mais caro do que o do vizinho, comprando sapatos a prestações na Charles e indo aos saldos do Cortefiel. O país segue-lhe os passos, com grandes projectos e, naturalmente, grandes desgraças. Não vale a pena alinhar de novo os orçamentos e os investimentos reais feitos com o Centro Cultural de Belém, a Expo 98 ou os dez estádios de futebol do nosso descontentamento. Basta atentar no Orçamento Geral do Estado, com a Manuela Ferreira Leite ou com o Pina Moura, que vai dar ao mesmo. Mais ponto, menos ponto, o orçamento é deficitário e, mesmo assim, à custa de vigarices criativas cozinhadas nos bastidores.
As regiões são, quanto a isto, parte integrante do país. Com referendo ou sem ele, por mais que Fernando Gomes - o da política - se sinta orgulhoso não sei de quê, o norte e particularmente o Porto alinham pela mesma pauta de solfejo. O Porto obteve o estatuto de património mundial e Fernando Gomes, se ouvir alguém dizê-lo, há-de espetar o dedo no ar e dizer alto e bom som que foi ele que o conseguiu. Mas o Porto é uma cidade despovoada, decrépita, com casas fechadas, ao abandono, e prédios em ruínas. Nenhum património mundial lhe vale e os autarcas vão prometendo a revitalização da baixa sem saberem do que falam e muito menos como consegui-lo.
Os últimos anos deixaram-nos casos emblemáticos, pela incompetência e pelo surrealismo, com que se desenvolveram alguns projectos. Já aqui se falou da Porto 2001 cujo ex-libris, a Casa da Música, há-de estar pronta, se chegar a estar, em 2004, depois de decorridos mais três anos e muitos mais milhões de euros. Pedro Burmester até já foi reformado e vai ocupar-se a tocar piano em lares para a terceira idade. Do mesmo modo se referiram as requalificações de algumas ruas, que já estão piores do que antes, um chamadao edifício transparente - que é opaco em tudo, até nos propósitos -, o elevador dos Guindais - cognominado de funicular que é mais "in". E hoje, porque passei por lá, o mamarracho que aí vai na ilustração, um caixote de betão, ao alto, com projecto do arquitecto Fernando Távora, implantado no Terreiro da Sé. Nunca se soube bem para o que iria servir, o que contava era construí-lo. Não tem nada a ver, em termos de enquadramento, com o Paço Episcopal, com a Sé ou com o Pelourinho, que ocupam o mesmo espaço. É um caixote ao alto, com uma janela em cima e uma porta em baixo. Fechadas. A evidenciar a degradação inclemente trazida por chuvas fortes e ventos agrestes. No estado em que estão as obras do Metro do Porto, a caminho de Gaia, o edifício bem poderia servir as necessidades do estaleiro próximo. Porque é que a Câmara o não aluga? Assim por assim, chamar-lhe Casa dos 24 ou Casa da Câmara não faz sentido nenhum.
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