A rábula mensal na Assembleia da República
Mensalmente o primeiro ministro vai em peregrinação a S. Bento para subir à tribuna a pretexto de prestar contas ao país. Esta é a versão oficial que os jornais divulgam em anúncios pagos, de página inteira e as rádios comoventemente põem no ar pela boca de milionários assessores de comunicação. O que de facto se passa na Assembleia, todos os meses, é a representação de uma rábula medíocre, interpretada por trapaceiros em vez de actores. Por isso mesmo o espectáculo não chega a sê-lo e não tem público. Fosse o Sr Raul Solnado, como actor dedicado e honesto, a interpretar a sua guerra de 14-18 e a sala estaria cheia durante meses a fio, com a assistência a aplaudir de pé no fim de cada espectáculo.
O governo emana de uma maioria que resulta de uma coligação de dois partidos. Um deles já caladamente se conforma com a ocupação de alguns ministérios e, como a toupeira, procura a luz do sol no apertado espaço subterrâneo das galerias que vai escavando. Os partidos que apoiam o governo desdobram-se no cumprimento e na bajulice, enquanto os seus deputados produzem imprevistos, sem nenhuma ideia e em mau português, que apressadamente prepararam dez minutos antes, em cima do joelho, no corredor onde perdem os passos e todas as mais sensatas ideias.
O governo agradece, acha essas intervenções patrioticamente úteis, faz vénias da tribuna, manda anotar o nome do Sr Guilherme Silva para que não seja esquecido no próximo acto eleitoral. Cumprindo a escala que é preparada nos bastidores, como se escalam os sargentos de dia nos estabelecimentos militares, uma vez por outra um sonolento deputado sentado na última fila solta um sonoro "muito bem!" e volta a sentar-se, retomando a leitura do jornal que gratuitamente o editor lhe mandou ou recomeçar a sesta bruscamente interrompida por deveres de ofício. Que é como quem diz, da escala de serviço.
A oposição é apenas e só acusada de ser responsável por todos os malefícios que apoquentam o país e que são a herança que deixou. Tudo é culpa do passado, a título fatalista, como no fado distorcido que ainda passa na Adega Machado, à atenção dos incautos bolsos dos turistas, a sacar-lhes as notas de dólar que, felizmente, não exibem a carantonha do exterminador Mr Bush. Para variar, cada nova intervenção é mais do mesmo, não muda nem a ementa nem tão pouco as moscas. Os deputados exaltam-se, gritam, lançam perdigotos pela boca que atingem quem estiver mais distraído. Atrapalham-se no discurso, encolerizam-se, espumam de raiva e fervem de fogão desligado.
O primeiro ministro fala do mercado que se enquadra no tema do debate do mês: a adesão de dez novos países à União Europeia. Fala como se fosse o professor Marcelo a dar uma aula a alunos do ensino secundário sobre o 25 de Abril. Mas, pelas palavras, não é do mercado do Bolhão que fala. Muito menos é no mercado do Bolhão que sobe à tribuna. Mesma que a fúria do discurso possa iludir os mais distraídos. Depois da farsa, toda a gente destroça, sorrateiramente, pelas portas laterais. Não vá o país estar à espera à porta principal.
O governo emana de uma maioria que resulta de uma coligação de dois partidos. Um deles já caladamente se conforma com a ocupação de alguns ministérios e, como a toupeira, procura a luz do sol no apertado espaço subterrâneo das galerias que vai escavando. Os partidos que apoiam o governo desdobram-se no cumprimento e na bajulice, enquanto os seus deputados produzem imprevistos, sem nenhuma ideia e em mau português, que apressadamente prepararam dez minutos antes, em cima do joelho, no corredor onde perdem os passos e todas as mais sensatas ideias.
O governo agradece, acha essas intervenções patrioticamente úteis, faz vénias da tribuna, manda anotar o nome do Sr Guilherme Silva para que não seja esquecido no próximo acto eleitoral. Cumprindo a escala que é preparada nos bastidores, como se escalam os sargentos de dia nos estabelecimentos militares, uma vez por outra um sonolento deputado sentado na última fila solta um sonoro "muito bem!" e volta a sentar-se, retomando a leitura do jornal que gratuitamente o editor lhe mandou ou recomeçar a sesta bruscamente interrompida por deveres de ofício. Que é como quem diz, da escala de serviço.
A oposição é apenas e só acusada de ser responsável por todos os malefícios que apoquentam o país e que são a herança que deixou. Tudo é culpa do passado, a título fatalista, como no fado distorcido que ainda passa na Adega Machado, à atenção dos incautos bolsos dos turistas, a sacar-lhes as notas de dólar que, felizmente, não exibem a carantonha do exterminador Mr Bush. Para variar, cada nova intervenção é mais do mesmo, não muda nem a ementa nem tão pouco as moscas. Os deputados exaltam-se, gritam, lançam perdigotos pela boca que atingem quem estiver mais distraído. Atrapalham-se no discurso, encolerizam-se, espumam de raiva e fervem de fogão desligado.
O primeiro ministro fala do mercado que se enquadra no tema do debate do mês: a adesão de dez novos países à União Europeia. Fala como se fosse o professor Marcelo a dar uma aula a alunos do ensino secundário sobre o 25 de Abril. Mas, pelas palavras, não é do mercado do Bolhão que fala. Muito menos é no mercado do Bolhão que sobe à tribuna. Mesma que a fúria do discurso possa iludir os mais distraídos. Depois da farsa, toda a gente destroça, sorrateiramente, pelas portas laterais. Não vá o país estar à espera à porta principal.
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