A actualidade nacional
A actualidade nacional é habitualmente dominada, dia a dia, durante a semana, pelo futebol. De segunda a quarta a discutir resultados, condenar os árbitros, lamentar as vitórias morais, realçar os fora de jogo e os golos marcados em posição irregular ou mesmo com a mão. Depois, de quarta a sexta, a criticar a nomeação dos árbitros, conferir os atletas lesionados, em má forma ou mesmo apanhados nas malhas do dopping pelo uso de uma qualquer droga proibida que faz bem às amígladas. Hoje, especialmente, a actualidade do país tem sido dominada pelos 23 convocados para a selecção que irá disputar a fase final do Euro 2004.
Já ontem o país se manteve impaciente e nervoso, até às três da tarde, como se fosse casar a sua única filha, rica, com um pelintra que, com a comunhão de adquiridos, assinasse um passaporte para a fortuna. O drama da chamada comunicação social, a especializada e a outra, já era tentar adivinhar se Vítor Baía seria ou não um dos eleitos, ainda que estivesse cansadíssima de saber que o não seria. Como não foi.
Logo a seguir à enumeração, lenta e pausada, dos nomes dos seleccionados o Sr Scollari foi questionado sobre as razões porque decidira assim. Não sendo simpático, passando a vida a dizer em voz alta que não exerce o cargo para fazer fretes, tentou responder polidamente. Para acabar a dizer, aliás muito correctamente, que lhe competia falar sobre os 23 que escolhera e não propriamente sobre algumas centenas que deixara de fora. O que está rigorosamente certo.
Hoje os jornais preencheram as primeiras páginas com títulos de mão cheia e as páginas interiores com dados biográficos sobre os 23 cavaleiros da Távola Redonda. As datas de nascimento, a altura, o peso, a cor dos olhos e a medida do colarinho. Promoveram-se debates públicos, que ainda não terminaram, e auscultou-se a opinião dos ouvintes. Os portugueses podem ser preguiçosos, levantar-se tarde, abandonar a escola antes de tempo e produzir pouco como se não cansa de salientar o ministro da indústria. Mas sabem de tudo, especialmente de futebol. Hoje o seleccionador Scollari foi apelidado de cabo lateiro, sargento e general. Elogiou-se-lhe o critério - de que ele nunca falou - e reclamaram-se explicações, patrioticamente, em nome do país. Adiantaram-se conselhos tácticos e sussurraram-se infalíveis estratégias de vitória. Cantou-se o hino nacional, enrolou-se a bandeira das quinas ao redor do tronco, a emoção embargou vozes e outros, mais frágeis, deixaram cair a lágrima furtiva.
O governo? Bem, como tanto gosta, passou despercebido, sem se falar dele. Em plena estação do Rossio um bando de secretários de estado foi metendo impunemente a mão nos bolsos dos contribuintes que regressavam a casa. Sem polícia que os importunasse e muito menos os ameaçasse com a prisão e a companhia do Dr Vale e Azevedo. Ontem também, um ministro que não tem jeito nem para a prédica nem para o sermão, anunciara a privatização da água. Ninguém lhe ligou nenhuma, como se isso não interessasse. Com o Euro 2004 à porta, de facto, é espúrio estar a discutir a questão da água. Se Deus quiser, no próximo inverno, há-de chover muita!
Já ontem o país se manteve impaciente e nervoso, até às três da tarde, como se fosse casar a sua única filha, rica, com um pelintra que, com a comunhão de adquiridos, assinasse um passaporte para a fortuna. O drama da chamada comunicação social, a especializada e a outra, já era tentar adivinhar se Vítor Baía seria ou não um dos eleitos, ainda que estivesse cansadíssima de saber que o não seria. Como não foi.
Logo a seguir à enumeração, lenta e pausada, dos nomes dos seleccionados o Sr Scollari foi questionado sobre as razões porque decidira assim. Não sendo simpático, passando a vida a dizer em voz alta que não exerce o cargo para fazer fretes, tentou responder polidamente. Para acabar a dizer, aliás muito correctamente, que lhe competia falar sobre os 23 que escolhera e não propriamente sobre algumas centenas que deixara de fora. O que está rigorosamente certo.
Hoje os jornais preencheram as primeiras páginas com títulos de mão cheia e as páginas interiores com dados biográficos sobre os 23 cavaleiros da Távola Redonda. As datas de nascimento, a altura, o peso, a cor dos olhos e a medida do colarinho. Promoveram-se debates públicos, que ainda não terminaram, e auscultou-se a opinião dos ouvintes. Os portugueses podem ser preguiçosos, levantar-se tarde, abandonar a escola antes de tempo e produzir pouco como se não cansa de salientar o ministro da indústria. Mas sabem de tudo, especialmente de futebol. Hoje o seleccionador Scollari foi apelidado de cabo lateiro, sargento e general. Elogiou-se-lhe o critério - de que ele nunca falou - e reclamaram-se explicações, patrioticamente, em nome do país. Adiantaram-se conselhos tácticos e sussurraram-se infalíveis estratégias de vitória. Cantou-se o hino nacional, enrolou-se a bandeira das quinas ao redor do tronco, a emoção embargou vozes e outros, mais frágeis, deixaram cair a lágrima furtiva.
O governo? Bem, como tanto gosta, passou despercebido, sem se falar dele. Em plena estação do Rossio um bando de secretários de estado foi metendo impunemente a mão nos bolsos dos contribuintes que regressavam a casa. Sem polícia que os importunasse e muito menos os ameaçasse com a prisão e a companhia do Dr Vale e Azevedo. Ontem também, um ministro que não tem jeito nem para a prédica nem para o sermão, anunciara a privatização da água. Ninguém lhe ligou nenhuma, como se isso não interessasse. Com o Euro 2004 à porta, de facto, é espúrio estar a discutir a questão da água. Se Deus quiser, no próximo inverno, há-de chover muita!
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