Detidos sem nome e com progenitores incógnitos
Há dias atrás os órgãos de comunicação social noticiaram a detenção de algumas dezenas de pessoas e a apreensão de algumas dezenas de quilos de haxixe, em consequência de uma operação policial de invulgar envergadura. Até aqui, tudo bem. Entre outras, é também para estas coisas que as forças policiais existem. Muito mais do que para irem aquartelar no Iraque, abandonar as ruas e as noites ao voluntarismo vândalo e marginal de passageiros da madrugada ou ocuparem garbosamente as selas de bestas de pêlo luzidio, na perspectiva de, por distracção, aprisionarem o Bin Laden em carne e osso.
Mas a notícia salientava um pormenor, aparentemente determinante: um dos detidos era filho da actual deputada e vice-presidente da Assembleia da República, Leonor Beleza. Ele próprio era ainda mais insignificante do que o tio Zé Manel que, para além de irmão da ex-ministra, ainda ao menos se chamava Zé Manel. Este, o filho, nem nome tem, coitado. Da mesma forma e à semelhança invulgar do que acontece com todos os outros, mais de trinta. Não têm nomes e não se lhes conhecem os progenitores, como se fossem a um tempo e contra o que dispõe o Código Civil, filhos de pai e mãe incógnitos.
Este pormenor, obviamente, não é informação. Com todas as letras, é apenas uma grosseira e inqualificável filha da putice. E é, ao mesmo tempo e muito, o espelho daquilo a que no país se vai chamando comunicação social. Os jornais, as rádios e as televisões vendem com base em publicidade que ultrapassa todas as fronteiras do mau gosto, da imbecilidade e da má fé. Atente-se, por exemplo, na grosseria dos anúncios do Banco Espírito Santo sobre um jogo de futebol contra a Grécia, de triste memória. Dizendo, mais ou menos, vamos deixá-los em ruínas. O "criativo", como é de uso dizer-se, responsável pela brilhante ideia terá noção de as tais ruínas terão universalmente muito mais importância do que este diminuto rectângulo que se estende para oriente a partir do Cabo da Roca? Depois, se isso era ainda possível, fomos nós a resultar em escombros, feitos ruínas patetas da nossa confrangedora arrogância. Falta a tudo isto o que sobrava da poesia de O'Neil e de Ary dos Santos, por exemplo.
Mas se aquilo é informação, fica aqui expressa a petição pública. Preciso de ser urgentemente reciclado, da ponta dos cabelos às unhas dos pés e da epiderme ao mais profundo das entranhas. Excluindo a vesícula que um credenciado cirurgião, há mais de dez anos, teve o trabalho de extrair-me. Este não é um país em que se possa viver. E não é por força da sistemática fragilidade dos ministros do ambiente, venham ou não poluídos com anedotas parvas ou com contas bancárias em francos suíços.
Mas a notícia salientava um pormenor, aparentemente determinante: um dos detidos era filho da actual deputada e vice-presidente da Assembleia da República, Leonor Beleza. Ele próprio era ainda mais insignificante do que o tio Zé Manel que, para além de irmão da ex-ministra, ainda ao menos se chamava Zé Manel. Este, o filho, nem nome tem, coitado. Da mesma forma e à semelhança invulgar do que acontece com todos os outros, mais de trinta. Não têm nomes e não se lhes conhecem os progenitores, como se fossem a um tempo e contra o que dispõe o Código Civil, filhos de pai e mãe incógnitos.
Este pormenor, obviamente, não é informação. Com todas as letras, é apenas uma grosseira e inqualificável filha da putice. E é, ao mesmo tempo e muito, o espelho daquilo a que no país se vai chamando comunicação social. Os jornais, as rádios e as televisões vendem com base em publicidade que ultrapassa todas as fronteiras do mau gosto, da imbecilidade e da má fé. Atente-se, por exemplo, na grosseria dos anúncios do Banco Espírito Santo sobre um jogo de futebol contra a Grécia, de triste memória. Dizendo, mais ou menos, vamos deixá-los em ruínas. O "criativo", como é de uso dizer-se, responsável pela brilhante ideia terá noção de as tais ruínas terão universalmente muito mais importância do que este diminuto rectângulo que se estende para oriente a partir do Cabo da Roca? Depois, se isso era ainda possível, fomos nós a resultar em escombros, feitos ruínas patetas da nossa confrangedora arrogância. Falta a tudo isto o que sobrava da poesia de O'Neil e de Ary dos Santos, por exemplo.
Mas se aquilo é informação, fica aqui expressa a petição pública. Preciso de ser urgentemente reciclado, da ponta dos cabelos às unhas dos pés e da epiderme ao mais profundo das entranhas. Excluindo a vesícula que um credenciado cirurgião, há mais de dez anos, teve o trabalho de extrair-me. Este não é um país em que se possa viver. E não é por força da sistemática fragilidade dos ministros do ambiente, venham ou não poluídos com anedotas parvas ou com contas bancárias em francos suíços.
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