1 de outubro de 2004

A culpa do algoritmo

No Porto, esta manhã, por entre um novoeiro denso e baixo que mais denunciava o tão longamente aguardado regresso de el-rei D. Sebastião, o ministério da doutora Carmo Seabra fez chegar o novo ano escolar. Depois de mentidos e desmentidos, avanços e recuos, asneiras menores e asneiras maiores, criou-se um mito e descobriu-se um génio que carregava a tiracolo um computador portátil para resolver em quatro dias problemas que apenas se tinham agravado no decurso de quatro meses. Mesmo com o envolvimento de mais do que um ministro e de empresa seleccionada por concurso, com cotação em bolsa e contribuições para a segurança social em dia.

A culpa é do algoritmoA culpa, dispararam todos como no tempo dos torneios de tiro aos pombos, foi do algoritmo. Algoritmo é um susbtantiva masculino que significa método e anotação das diversas operações e processos de calcular; programa que se introduz numa máquina de calcular. (Do árabe al-khuarizmi, sobrenome de um matemático árabe, pelo latim medieval algorithmos, influência do grego arithmós), como reza o meu escolar e velho dicionário da Porto Editora. A culpa imediata tem sempre a ver com o algoritmo, em tudo. O governo não funciona porque o algoritmo construído pelo presidente da república para a indigitação do primeiro-ministro continha falsos postulados e asserções incorrectas. O ministro da educação falha porque o primeiro-ministro falhou no algoritmo que desenhou para as funções e para o convite. Secretários de estado, directores gerais, chefes de repartição, primeiros oficiais e contínuos soçobraram porque todos os algoritmos, encadeados, baquearam como o Benfica frente ao Celta de Vigo num desafio de futebol de triste memória. Para os adeptos da águia, já se vê!

O algoritmo, em Portugal, descura o planeamento e ignora o profissionalismo em tudo o que se faz. O que se visa é o lucro fácil e imediato, as mordomias, os almoços de trabalho e o plástico de crédito na carteira para os almoços de fim de semana e as compras de roupa interior. O país não exige habilitações especiais a quem nomeia para cargos, contenta-se com os apelidos e os nomes de família. Não exige certificados, curva-se à militância, ao compadrio e à associação de interesses. O governo não estabelece metas nem fixa objectivos: paga apoios e distribui o resultado do saque. Não promove a formação profissional e a reciclagem mas fomenta a música pimba e a dança das cadeiras. Numa palavra, o país não pensa profissionalmente sequer aquilo que tenciona fazer e nunca lhe passou pela cabeça encarar profissionalmente aquilo que faz. Muito menos tratar profissionalmente os resultados obtidos e admitir a derrocada de um algoritmo esconso de ideias tontas.

E um país, mesmo que venha de um condado onde o filho afrontou a própria mãe, mesmo que tenha a flutuar a bandeira da autonomia há séculos, não se constroi sobre o trabalho político de todos os deputados Silvas que se deslocam a S. Bento para o encerramento do ano parlamentar e que não adbicam da grotesta imunidade que os acoita. Constroi-se à custa do trabalho profissional e competente de todos aqueles que, abaixo das secretarias de estado, devem ser apenas profissionais, rigorosamente seleccionados e sem intervenção política. Mas esta asserção, a que se chega por algoritmo simples e linear, é inatingível em países do terceiro mundo e da quinta das celebridades!


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