19 de novembro de 2004

O charco

Não há muitos anos o Porto era olhado de soslaio, o ministro Sarmento diria que lhe faltava a credibilidade que também diz faltar ao relatório da AACS e o ministro qualquer coisa da silva iria mesmo ao ponto de dizer que a cidade padecia de parcialidade e não apresentava fundamentação quanto ao seu arreigado regionalismo. Chegando a Santo Ovídio já a gente se despedia da família e qualquer viagem do Futebol Clube do Porto a Lisboa, para cumprir calendário e levar três ou quatro do Sporting, era um acto heróico como seguir para as colónias a cumprir aqueles dois perdidos anos das nossas vidas. Toda a gente recorda, com a saudade com que se invoca o invulgar desempenho de Raul Solnado, uma velha rábula que passou no Zip-Zip de boa memória.

Lisboa ficou mais perto, a malta começou a deixar de ter medo de lá ir, o Futebol Clube do Porto começou a jogar em Alvalade ou na Luz como nas Antas, às vezes até melhor. Isto aconteceu um pouco por força da auto-estrada do norte que o ex-ministro Medina Carreira, se se recordam, achava politicamente que não era precisa para nada. Vai daí aquela gente, que o sportinguista Meneses de Gaia entretanto apelidou em congresso de sulista, elitista e liberal, começou a procurar justificações e formas depreciativas de diminuir este estranho povo de além Douro.

Alguns hipotéticos postulados persistem até hoje. Ou é porque se trocam os bês pelos vês, ou é pela pronúncia do norte, ou é pelo palavrão corrente ou ainda pelo sistema, indefinido e intangível, que tanto preza o Dr. Dias da Cunha. Acontece que em Lisboa, mais do que no Porto, toda aquela gente anda distraída a olhar para o próprio umbigo, não sabe o que diz e não faz a mínima ideia do que seja o Porto, o norte ou o país. Não têm também sido fáceis, no sentido de bem sucedidas, algumas incursões de personalidades da vida portuense à margem direita do Tejo, nomeadamente no que respeita à classe política.

Tem-nos valido a desatenção e a leviandade com que aquela gente se passeia por S. Bento, pela Gomes Teixeira e pelo Parque das Nações. Porque nós por cá bem temos persistido em criar obras-primas para a chacota nacional. E não vale a pena estarmos agora aqui, uma vez mais, a enunciar a nossa vasta série de ex-libris. Mas podemos acrescentar-lhe mais um, que vai passando, sossegadinho, quase sem darmos por ele.

Tal é o caso do parque de estacionamento construído na rotunda do Castelo do Queijo, a concorrer directamente com o chamado edifício transparente e a dar menos nas vistas porque se esconde, envergonhadamente, debaixo da terra e sob a estátua. Realmente, ao que parece, o parque dá-se mal com a humidade e muito pior com a chuva. Crê-se que com a mania das grandezas e com ciúmes do mar lhe plagia os comportamentos. E, vai daí, alaga-se como se fosse sempre preia-mar. Ao que parece os poucos automóveis que o procuram, sedentos de repouso e de recato, têm de fazer uso de motores fora de borda e os condutores que habilitar-se com a carta de marinheiro. Apenas os pescadores compulsivos têm evitado as suas margens por falta de lanço para atirarem o isco longe e ficarem à espera que o robalo ferre. Porque se assim não fosse já ali se teriam realizado concursos de pesca desportiva. Com sucesso garantido e participação internacional.

A Câmara do Porto parece ter entretanto já lançado o concurso da empreitada para resolver o problema das inundações. O que corresponde, ao menos, a assumir publicamente, perante a cidade e perante o país, que aquilo que ali se construiu foi um lago artificial. É o nosso Alqueva: mais pequeno, cremos que mais moderado no custo, se calhar com uma albufeira menor. Seria de pensar nisso, talvez no próximo Verão ali pudéssemos já assistir a competições de desportos náuticos. E quando toca a meter água a gente já sabe que se sai sempre bem, carago!

1 Comentários:

Às 3:17 da tarde , Blogger ATF disse...

desculpa lá mas essa cena de st ovideo é tudo uma grande treta. eu vivo em gaia desde miudo e lembro-me bem que para ir ver o benfica ás antas a malta ao passar a ponte da arrábida ou de luis I tinha que esconder as bandeiras do benfica pah. era uma intifada autentica. libertem-se dessa treta de perseguições.

 

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