Zeca Afonso – em digressão há 25 anos
Entre hertzes e megahertzes, diversas frequências se afadigaram hoje a celebrar Zeca Afonso e a recordar a sua partida, há 25 anos. Como se ele tivesse partido, quando está aqui defronte, o cabelo em desalinho, os óculos grossos, a alma imensa e o talento à dimensão do sonho que construiu para si e para os outros.
Procuro forma e ousadia para me chegar a ele e o conhecer pessoalmente. Estender-lhe a mão e dizer-lhe como respeito e admiro quem, como ele, inventou os sonhos e acreditou neles. E, para além disso, conseguiu que os outros acreditassem e continuem a acreditar na utopia. Porque, como disse Gedeão, eles não sabem que o sonho comanda a vida.
Zeca foi proscrito, Zeca foi censurado depois do 25 de Abril, para o qual deu grande e desinteressado contributo, antes e depois. Depois de fisicamente desaparecido o país celebra-o, como inofensivo. O país não suporta que alguém ouse sonhá-lo para além da sua pequena dimensão de quintal. Tem sido assim sempre, tem sido assim com todos. Salgueiro Maia não quis nada e não teve nada, a não ser a desconsideração daqueles a quem abriu caminho para o poder e para a fortuna. Hoje, que está morto, colocam tabuletas com o seu nome às esquinas de ruas.
Com Zeca isso não aconteceu e nem acontecerá, mesmo que uma rua aqui perto tenha à esquina uma placa: Rua Zeca Afonso, cantor. Sempre saiu do palco pela porta dos fundos quando os algozes entravam pela principal. Cada passo seu passava para além das fronteiras, o seu sonho voava, e voa, para além da altitude a que os cumulonimbos ameçam a navegação. Zeca era e é maior do que o país a que se entregou a si e ao sonho. Que dividendos recolheu disso? Os mais bonitos e nobres de todos. Exatamente os do sonho. Do sonho que viveu, do sonho que continuamos a viver, por nós e por ele. Com ele, sempre!
1 Comentários:
Olá Luis.De regresso ao cabo raso.Ainda bem .Continua com esse teu humor satírico e crítico ,muito bem vindo a este teu blog.
Zeca Afonso para mim sempre.
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