Pedro Álvares Cabral partiu para a Índia há 513 anos
A 9 de março de 1500,
comandando uma frota composta por 13 navios, e depois de uma viagem rigorosa e
pormenorizadamente planeada, Cabral largou de Lisboa para a Índia, seguindo a
rota recentemente aberta por Vasco da Gama, com o objetivo de estabelecer e
consolidar relações comerciais e regressar com uma carga de especiarias.
Como se sabe, quem
reduziu os planos a escrito ou os digitalizou para o Magalhães, esqueceu-se de que
a bordo só viajavam facínoras e analfabetos, incapazes de interpretar tão
desenhada caligrafia e tão retocados mapas… E o resultado foi o que se viu: A
frota rumou a ocidente, procurou com denodo o cabo da Boa Esperança e, quanto
maior era a desesperança, mais rumava a ocidente e mais procurava o cabo. E
tanto procurou que foi o cabo dos trabalhos até que o gajeiro divisasse terra e
se pensasse ser a Madeira com o pico do Arieiro a furar as nuvens, ainda o
regedor de lá andava à solta nas Selvagens, apenas de tanga a tapar-lhe as
partes, facto do qual, aliás, as ilhotas ganharam a grandiosidade do nome e ele
a fama e a erudição da linguagem.
Nós temos no governo
dos nossos dias uma réplica rigorosa da frota de Cabral, sem navegadores, sem
barcos e sem crédito, mas com uma vontade louca de ir aos mercados e às
meninas, a adquirir tomates e pepinos, dispondo de dois submarinos que custaram
os olhos da cara - para cujo pagamento
pedimos dinheiro emprestado - incluindo comissões, favores, prendas, viagens e
enriquecimentos ilícitos e que estão aptos, depois de terem subido o rio
Trancão, submersos, até à nascente e se prepararem para subir o rio Nabão até
ao Agroal. Temos até, para comandar a frota, um outro Cabral, sem ser Pedro e
nem sequer Álvares.
O governo exercita-se
para que nada falhe e tudo corra tão de acordo com os planos, como correu a
expedição de 1500 e vem correndo a redução da dívida pública. Tanto assim que,
à medida que o desemprego cresce, o governo combate-o liberalizando os
despedimentos. E como se isso não bastasse, o próprio primeiro-ministro
prometeu diminuir o salário mínimo, promover a fome, como forma de nos
garantir a felicidade, a eira cheia e a salgadeira atafulhada de presuntos.
Quando só houver desempregados, será a abastança e a expansão colonialista do
século. Nem a Coreia do Norte ou as Seychelles escapam! E os submarinos levarão
a bordo uma carga de pastéis de belém, se o condómino das traseiras não
absorver a produção toda, como vem acontecendo com o bolo-rei. A canela poderá
ser adquirida no destino, a preços de “outlet” – não sei o que significa a
palavra, mas fica bem! - esperando ser possível moê-la
com recurso ao “outsourcing” – esta ainda sei menos, mas que se lixe, deve ser
francês do Dr. Soares! – a preços competitivos.
A pátria tem o futuro
garantido, o Dr Vasco Pulido Valente tem assunto para as suas crónicas durante uns
tempos e o governo em peso está às portas da imortalidade, só lhe faltando
mesmo estar morto!
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