Tempo de verão
Chega-me
no início da semana, pela alvorada de segunda feira, como o vento morno que sopra,
lento, do norte de África. Uma sensação matinal de frescura entrando pela
janela aberta, fazendo-te esvoaçar as vestes noturnas, escassas e ligeiras, com
que acolheste a noite e o sono profundo e repousante a que sucumbiste, no meio
do calor que o ar vai espalhando pelas margens do verão, até ao conforto
irresistível do sofá. Apesar disso, não foi tão quente a noite, que te
obrigasse a desnudares-te mas, mesmo assim, podem ver-se-te, ainda que a custo,
as formas delicadas do corpo franzino e frágil de miúda, atravessando a
transparência dos tecidos e a serenidade tranquila da madrugada, beleza
translúcida mergulhada no cansaço que veste as horas que vão suavemente caindo
do relógio.
Pouco
depois, um ventinho fresco varrendo as encruzilhadas da manhã, o caminho para a
beira mar quase leva à frente o desjejum e o pequeno almoço se perde na azáfama
e no esquecimento, nem pão nem torradas com manteiga, um simples café de Viena,
saciado o apetite que te falta, a hora apressada marcada para a reunião, a
areia fina da praia e o mar sem ondas na impaciência da espera, a maré a vazar,
a faixa aquém da rebentação a convidar ao passeio, as pegadas frescas marcadas
na uniformidade lisa do percurso, transbordando de sol, pés pequenos,
sapatinhos de cristal. Todos te servem, construídos à medida exacta do teu pé,
nenhuma folga, nenhum aperto, até o sol à medida do que te pede a pele macia e
delicada de princesa. Tudo perfeito!
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