Pulhice humana
O
país e a pulhice indígena têm para com o senhor José Vilhena uma histórica
dívida de gratidão. Além de todos os direitos de autor que lhe devem ser pagos
pela sua história universal da pulhice humana. Foi ele a pôr Portugal no mapa
da pulhice e a conferir estatuto ao pelintra pulha nacional que não passava da
vulgaridade rasteira.
O
pulha nacional tem hoje visibilidade pública, desempenha cargos políticos,
administra fortunas, tem filiação partidária, foi à escola, tem habilitações literárias.
É licenciado, mestre ou doutor, é comentador de televisão, tem colunas de
opinião nos jornais neoliberais, é entrevistado nas rádios regionais onde
também cantam o senhor Quim Barreiros e a dona Mónica Sintra. É médico, mesmo
especialista, mesmo cirurgião, colecionador de arte, apreciador de Miró, advogado
estagiário, juiz, dirigente desportivo, futebolista, comendador, jogador de
golfe e apostador no casino. Ouviu falar dos Lusíadas, já alguém lhe falou de
Pessoa, desconhece por inteiro quem seja o engenheiro Álvaro de Campos, admira
Lili Caneças, reclama a ida de Eusébio para o Panteão.
Genuinamente
o pulha tem estatuto mas não tem nem consciência nem remorsos. É fisicamente
uma coisa amorfa, que não cristaliza para ser diamante, e de química indefinida
e mal cheirosa como as celuloses. O mal é o seu propósito, a vingança o
sortilégio de que se alimenta, mesmo quando se põe na primeira fila, em bicos
de pés, estendendo a sua carta de curso e a ponta afiada do bisturi, pronta
para o corte do que lhe der mais jeito ao mau génio. De resto tem a coragem de
quem age pela calada, a coberto da noite, colado às paredes pouco iluminadas e
é inimputável. Não tem a culpa de nada mas tem a certeza absoluta de tudo!
O
pulha atrapalha tudo, tem a massa encefálica concentrada no dedo grande do pé
direito, a cabeça é vácuo. Não pratica desporto, não faz exercício, não joga às
cartas nos jardins públicos. Pratica golfe, um jogo a que chama desporto, muito
em voga nas ruínas do casal ventoso com equipamentos comprados em libras
esterlinas, no Harrods da capital inglesa. Um jogo em que se chama “holes” aos
buracos e “greens” aos relvados de capim rasteiro. Como ele!
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