7 de fevereiro de 2014

Pulhice humana

O país e a pulhice indígena têm para com o senhor José Vilhena uma histórica dívida de gratidão. Além de todos os direitos de autor que lhe devem ser pagos pela sua história universal da pulhice humana. Foi ele a pôr Portugal no mapa da pulhice e a conferir estatuto ao pelintra pulha nacional que não passava da vulgaridade rasteira.


O pulha nacional tem hoje visibilidade pública, desempenha cargos políticos, administra fortunas, tem filiação partidária, foi à escola, tem habilitações literárias. É licenciado, mestre ou doutor, é comentador de televisão, tem colunas de opinião nos jornais neoliberais, é entrevistado nas rádios regionais onde também cantam o senhor Quim Barreiros e a dona Mónica Sintra. É médico, mesmo especialista, mesmo cirurgião, colecionador de arte, apreciador de Miró, advogado estagiário, juiz, dirigente desportivo, futebolista, comendador, jogador de golfe e apostador no casino. Ouviu falar dos Lusíadas, já alguém lhe falou de Pessoa, desconhece por inteiro quem seja o engenheiro Álvaro de Campos, admira Lili Caneças, reclama a ida de Eusébio para o Panteão.

Genuinamente o pulha tem estatuto mas não tem nem consciência nem remorsos. É fisicamente uma coisa amorfa, que não cristaliza para ser diamante, e de química indefinida e mal cheirosa como as celuloses. O mal é o seu propósito, a vingança o sortilégio de que se alimenta, mesmo quando se põe na primeira fila, em bicos de pés, estendendo a sua carta de curso e a ponta afiada do bisturi, pronta para o corte do que lhe der mais jeito ao mau génio. De resto tem a coragem de quem age pela calada, a coberto da noite, colado às paredes pouco iluminadas e é inimputável. Não tem a culpa de nada mas tem a certeza absoluta de tudo!


O pulha atrapalha tudo, tem a massa encefálica concentrada no dedo grande do pé direito, a cabeça é vácuo. Não pratica desporto, não faz exercício, não joga às cartas nos jardins públicos. Pratica golfe, um jogo a que chama desporto, muito em voga nas ruínas do casal ventoso com equipamentos comprados em libras esterlinas, no Harrods da capital inglesa. Um jogo em que se chama “holes” aos buracos e “greens” aos relvados de capim rasteiro. Como ele!

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