A novela dos Mirós
Eu
nunca vi um porco a andar de bicicleta e ainda me poderia admirar. Graças a
Deus, e ao Boavista, que o senhor João Loureiro já viu e eu não tenho razões
para duvidar do seu olho de lince e de outros conhecidos atributos seus. Como a
hereditariedade e o jeito para a música como vocalista de um grupo que andou
por aí a fazer chinfrim e que tinha um nome mas que não era Madredeus. O que eu
vi foi só o seu progenitor a andar de fritadeira, atrás de uns sacos de
batatas, algures na zona de Maquela do Zombo e, desde aí, que lhe admiro a
habilidade para o triplo salto mortal invertido sob comando de um apito
dourado.
Não
fosse isso e eu nunca acreditaria que Coelho fosse nome de gente, Portas
apelido de vice qualquer coisa e, atentem, não sei quê Xavier secretário de
estado da cultura. Cultura assim, em sentido lato, sem ser do milho ou do
feijão que, por sermos ricos, importamos de Espanha que é pobre e só produz
laranjas e desempregados. Mesmo com óculos o tal de Xavier continua míope e não
enxerga coisa nenhuma, embora fale muito e diga pouca coisa. Mas, pelos tempos
que correm, passou inesperadamente a estrelar a novela dos quadros pintados
pelo catalão Miró que já quase destrona o êxito cultural da casa dos segredos e
da respeitável dona Teresa aos gritos Guilherme.
O
principal figurão da novela é um tal do extinto reino dos algarves que confessa
ser grande admirador de Miró desde os tempos em que, pelos canaviais, ambos
corriam de fisga à caça dos pardais. Admira-lhe a arte na construção das fisgas
mas escusa-se a pronunciar-se sobre a respectiva pontaria, até porque a caça ao
pardal é proibida por portaria camarária e pelo mais profundo espírito da
constituição, Da que está em vigor ou da do professor beirão, para ele tanto
faz, desde que haja bolo-rei para o lanche.
Outro
figurão, dispensado do “casting” por falta de aptidões, proclama, desde a
gaiola de São Bento, que a defesa do país e o futuro dos portugueses depende da
venda dos Mirós e, ameaçador e estúpido, ameaça ir buscar alguns milhões à
saúde e ao ensino, onde já quase só sobram casas mortuárias, escolas fechadas e
professores no desemprego. Por mim até suspeito que se os quadros puderem ser
vendidos a tempo ainda haverá bilhetes grátis para o Benfica-Sporting do
próximo domingo e a equipa de arbitragem terá uma semana de férias numa
estância das Caraíbas.
A
estrela, salvo seja. O tal não sei quê ar ridículo Xavier para quem,
eruditamente, a cultura é apenas batata, importada das Astúrias, em sacos de
cinquenta quilos. E que pensa que a cultura é mesmo batata frita, comprada nos
supermercados, para matar a fome aos meninos que fazem surf, aprendem golfe e
incham de obesos, enquanto reprovam a português e a matemática, para emigrarem
e fazerem diminuir as taxas de desemprego. Como acha, com inteligência, que a
culpa do imbróglio dos Mirós é do Afonso Henriques que nunca devia ter descido
de Guimarães, de quem o problema foi herdado, e que não consta que soubesse ler
ou escrever. Como ele não sabe, coitado!
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