A desrestauração
Finalmente
um governo patriota e determinado tem perseguido, activa e insistentemente, a
limpeza dessa nódoa da história nacional que é a restauração nacional de 1 de
Dezembro de 1640. Em primeiro lugar foi eliminado o feriado nacional que era
reservado à celebração da data. O que, mais do que lógico, é útil e proveitoso.
Porque não cabe na cabeça de ninguém celebrar o que não existe e porque nada
justifica que a banca prescinda de um dia de trabalho dos calaceiros a quem dá
emprego remunerado principescamente. E, para as dúvidas, ainda para aí anda o
engenheiro Jardim Gonçalves, pronto a atestá-lo, desde que lhe paguem as
despesas de deslocação.
Miguel
de Vasconcelos, ao que consta atirado de uma janela do Palácio da Ribeira
abaixo, foi muito justamente reabilitado sob o suposto nome de Paulo Portas, de
forma irrevogável e definitiva. Primeiro como ministro não sei quê dos
estrangeiros e depois como vice-ministro das laranjeiras, sob os aplausos
unânimes, e de pé, dos ministros das motorizadas e das cervejas. A duquesa de
mântua foi igualmente reabilitada, homenageada com o nome numa travessa de
Aguada de Cima – que não tem culpa nenhuma! – mesmo ao lado do Vidal dos
leitões e premiada com quatro meses de licença de parto pelo seu contributo
para o aumento dos índices de natalidade e pelo evidente sentido de estado do
milheiral.
Dom
João IV foi desqualificado como Lance Armstrong na volta à França, por uso de
métodos proibidos e devolvido ao seu palácio de Vila Viçosa, terra que o
acolheu a contragosto e lhe arremessou alqueires de tomates maduros ao coche
que o transportava, proferindo impropérios e insultando-lhe a família. Tudo sob
o suposto nome do rural Cavaco Silva, nascido além fronteiras, nos reinos do
Algarve, e contando no currículo com duas idas ao reino de sua majestade para
levar encomendas de vinho fino, destinado a umas jantaradas na moradia de Buckingham.
Passos Coelho, sem enquadramento
zoológico adequado, foi transitoriamente devolvido a Massamá a bordo de um
automóvel topo de gama, em trânsito para Bruxelas. Onde, a mando da senhora
Merkel e da troika, defenderá com unhas e dentes, carro de serviço, cartão de
crédito e um sofrível salário de alguns 50.000 euros, o interesse nacional, o
pagamento não se sabe de quê à EDP e a venda alegre, e a preços da feira da
ladra, de património nacional como a Ana e os CTT. Os compradores receberão
ainda, a título de reconhecimento pelo indefectível patriotismo, os estaleiros de
Viana do Castelo, o Banco Privado Português, os Drs. Oliveira e Costa e Vale e
Azevedo e, ainda, umas desprezíveis centenas de milhões de euros.
Está a caminho a salvação
nacional e a soberania sobre a ilha do Pessegueiro, para onde já foram mandadas
marchar quatro praças, dois sargentos e seis oficiais generais. Em Coimbra, Dom
Afonso Henriques auto-exuma-se. De orgulho!
1 Comentários:
lance Armstrong? atão não se lançavam só livros?
agora fazem-se lançamentos em vivo?
carrada de murcões
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