O senhor Silva foi à televisão
O
senhor Silva foi ontem à televisão para abrir a boca. Terão sido acidentais os
acordes prévios do hino nacional, poderiam muito bem ter sido os de um dos
múltiplos sucessos com letra, música, arranjos e orquestração superiores do
celebrado artista Quim Barreiros, da cosmopolita Vila Praia de Âncora, terrinha
simpática que não tem culpa nenhuma e que, logicamente, não deve ser para aqui
chamada.
Eu
tremo sempre que o senhor Silva abre a boca, excepto quando o faz para trincar
uma fatia de bolo-rei que, já agora, o orçamento público suporta. De resto,
tremo e temo, porque o vejo empoleirado no topo do pau de sebo que antigamente
espetavam nas feiras, uma mão no bacalhau e a outra no garrafão, esquecendo-se
de que só tem duas. E cair dali abaixo, a estatelar-se no solo, a gritar
impropérios e a partir as costelas, com a Maria de véu negro a cobrir-lhe a
face de toutinegra, lavada em lágrimas e em lamentos.
Esperei
ontem que, por influência de um qualquer assessor, sofrivelmente pago à razão
de alguns quatro mil euros mensais, viesse como qualquer ventríloquo de circo,
apelar ao voto para as tais autárquicas de hoje. Mas não, à falta de bolo-rei,
preferiu começar pela asneira. E reclamar de imediato a alteração das leis
eleitorais que prejudicaram o eleitor e o seu cabal esclarecimento sobre os
projectos dos candidatos. Poderia o senhor Silva ter reclamado mais alguma
democracia e mais alguma transparência, que vão faltando cada vez mais. Sempre
vale mais tarde do que nunca e poderia o eleitor ficar a saber alguma coisa dos
desvarios do senhor Silva primeiro-ministro, da sua expo e do seu centro
cultural bem como dos respectivos descalabros financeiros. Ou das estroinices
do senhor Silva de Belém, a comer pasteis, a engasgar-se com a canela em pó e a
fazer visitas de estado às selvagens e às cagarras.
Mas
não! O senhor Silva ou come bolo-rei ou sai asneira. E nós já deveríamos todos
saber disso, não era?
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