O país sem tesouro
Pela
calada da noite o governo fora a retirar da sua enxerga e do seu descanso um
guarda aposentado, tido por perito a descobrir coisas por encomenda e pronto a
ser espoliado de parte da sua pensão, a bem da troika, da banca e do futuro das
más contas públicas.
Pela
madrugada, algures e sem manta que o cobrisse, o primeiro amanuense interrompe
o sonho de ali babá e os quatrocentos ladrões, pergunta pelos resultados da
investigação do perito. O vigilante de serviço, mascarado de vice, informa-o
que a coisa era como se pretendia, tudo invenções da oposição, da esquerda
radical e do cardeal patriarca, ámen.
Pelo
alvorecer um estafeta é mandado a casa do insuspeito e aplaudido secretário de
estado Pais Jorge, utilizando uma viatura de alta cilindrada e mais alto custo,
como manda a austeridade, a confirmar-lhe a notícia e o emprego por que tão
denodadamente se batera, contra ministros, bancos e suopes.
Pela
manhã o secretário de estado acorda tal como viera ao mundo, nuzinho de todo, o
patriotismo pelas ruas da amargura, uma irrevogável crise de amnésia. Não se
lembra de nada, não sabe que cargo ocupa, esqueceu o nome do motorista, nunca
foi a nenhum banco, ninguém alguma vez ou em algum lugar lhe falou ou lhe disse
o que eram suopes. O que ele gosta mesmo é de sardinhas assadas com pimentos e
de entreter-se a contar os tostões que lhe enchem a arca antiga, herdada dos
avós.
Demite-se,
sem saber o que é isso. O país está sem fortuna e sem tesouro, infestado de
ladrões e de melgas. O primeiro amanuense exclama porra, mata alguns mosquitos
que lhe sugam o sangue das pernas, retoma o sono e os sonhos. Amanhã é outro
dia, de sol e mar, de trabalhar para o bronze, de gamar mais um bocado aos
reformados. A bem da equidade!
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