23 de julho de 2013

As tuas mãos de fogo


As tuas mãos de fogo, serra abaixo, acariciando rios de vento, como se fossem searas. A paisagem com barcos navegando à deriva pela encosta, todas as velas pandas, o vento norte. No fundo encovado dos meus olhos ainda a mesma esperança verde das colinas, a esbater-se. O meu destino abandonado sobre o silêncio tranquilo do teu corpo esbelto, cabelos em desalinho, nem lágrimas nem risos, o olhar pousado no infinito, para lá de tudo.

De onde viemos, assim, sem nos darmos as mãos, como se toda a vida fosse só este momento, aqui e agora? E nesta falta de palavras e de gestos já nos conhecemos desde sempre, chegamos de um tempo tão antigo que não cabe nem na história nem nas páginas densas de nenhum livro. Todos os dias amanhecem à mesma hora, como se nunca tivesse anoitecido, sem chuvas e sem frios, o cheiro livre dos horizontes de áfrica a percorrer-nos as veias, a indiferença dos rios correndo para o mar, o deserto pelo meio.


Mas aqui chegamos, suados da caminhada e do esforço, o futuro adiado e aquele inconfundível brilho no olhar, macio e doce. Não precisamos de palavras, se as dissermos irão apenas engrossar o caudal de vento com que o rio transborda das margens e inunda ruas e casas quando atravessa o povoado. Tão pouco gestos ou mãos dadas e dedos entrelaçados, tanto faz. Vamos seguindo o nosso olhar, até onde ele nos levar. O mar azul, a água salgada, a areia fina. O caminho comum!

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