As tuas mãos de fogo
As
tuas mãos de fogo, serra abaixo, acariciando rios de vento, como se fossem
searas. A paisagem com barcos navegando à deriva pela encosta, todas as velas
pandas, o vento norte. No fundo encovado dos meus olhos ainda a mesma esperança
verde das colinas, a esbater-se. O meu destino abandonado sobre o silêncio
tranquilo do teu corpo esbelto, cabelos em desalinho, nem lágrimas nem risos, o
olhar pousado no infinito, para lá de tudo.
De
onde viemos, assim, sem nos darmos as mãos, como se toda a vida fosse só este
momento, aqui e agora? E nesta falta de palavras e de gestos já nos conhecemos
desde sempre, chegamos de um tempo tão antigo que não cabe nem na história nem
nas páginas densas de nenhum livro. Todos os dias amanhecem à mesma hora, como
se nunca tivesse anoitecido, sem chuvas e sem frios, o cheiro livre dos
horizontes de áfrica a percorrer-nos as veias, a indiferença dos rios correndo
para o mar, o deserto pelo meio.
Mas
aqui chegamos, suados da caminhada e do esforço, o futuro adiado e aquele
inconfundível brilho no olhar, macio e doce. Não precisamos de palavras, se as
dissermos irão apenas engrossar o caudal de vento com que o rio transborda das
margens e inunda ruas e casas quando atravessa o povoado. Tão pouco gestos ou mãos
dadas e dedos entrelaçados, tanto faz. Vamos seguindo o nosso olhar, até onde
ele nos levar. O mar azul, a água salgada, a areia fina. O caminho comum!
0 Comentários:
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial