A masturbação
Chegou
a pensar-se que esta tarde se poderia ir aos touros ao hemiciclo de São Bento.
Expetativa frustrada. Os touros, saídos algures da lezíria ribatejana,
atravessaram o Tejo e ficaram-se pelas largadas de Vila Franca, nas festas do
Colete Encarnado, no início do mês. Nem as chocas chegaram a São Bento e os
próprios campinos se quedaram pela lezíria, tisnando a pele trigueira sob este
incerto sol de verão.
Afinal
a peça, sob o anunciado título de “Moção de confiança”, nem sequer vendeu todos
os bilhetes e o galinheiro apresentava largas zonas vazias, não se vendo sequer
as claques de apoio e as suas bandeiras exibindo a dimensão, que não o conteúdo,
das inscrições. O primeiro acto foi uma masturbação, sem convicção nem
entusiasmo, a que se entregou um antigo aprendiz de cantor de ópera, ex-chefe
de família não exemplar, desde sempre parasita político do orçamento, sem a
mínima ideia do país e, benza-o Deus, sem a mais remota ideia para ele. Pelas
reações, não terá havido orgasmos e os aplausos, ainda mesmo que simulados, não
foram muito além disso.
O
segundo acto acabou sendo um velório, sem velas acesas, sem incenso e sem
abade, transbordando de defuntos em putrefação e de discursos vazios a cheirar
a podre, anunciando a ressurreição e o paraíso para dois presumíveis anos de
legislatura que ainda julgam pela frente. Nem eles próprios acreditaram nos
sermões e os poucos aplausos perderam-se na certeza das férias que os
portugueses, sistematicamente invocados abusivamente e em vão, não poderão
gozar para recuperar energias e pensar um futuro menos negro.
No
fim, como no casino e com as cartas viciadas, o resultado foi o que
antecipadamente se conhecia. O vice Portas fez o derradeiro e irrevogável
sermão. Uma senhora, nitidamente reformada por incapacidade, apresentou
submissos cumprimentos ao praticante de canto e à sua quadrilha, alguns narizes
à dimensão dos fenómenos do Entroncamento emergiram no galinheiro. Debandou-se
em paz e tranquilidade, para as praias da linha e para a herdade da Comporta! A
fingir de pobrezinhos como as debutantes da família Espírito Santo.
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