Morreu Urbano Tavares Rodrigues
A
notícia vergastou-me antes de almoço, enquanto saboreava um café e folheava um
jornal que, ele próprio, questionava a intenção altruísta do ministro Casto, ou
Castro, ou Crato ou seja o que for, de subsidiar o ensino básico privado, no
sentido de criar mais desemprego e possibilitar aos pobres a livre escolha da
escola onde querem os filhos. Já que na Comporta os ricos brincam aos
pobrezinhos, andando descalços, não comendo a horas certas e indo à praia sem
segurança, fico na expetativa. Não tarda de certeza que poderei escolher
livremente o automóvel em que hei de ir a Fátima, como fazem os ricos,
utilizando uma bomba topo de gama como eles e o senhor Dias Loureiro usam.
Devidamente financiado pelo orçamento do estado, pela ministra das finanças e
pelos lucros exorbitantes dos suopes.
Tive
com Urbano Tavares Rodrigues um batismo tardio, quando era um leitor inocente e
compulsivo. Não me motivavam os contos e novelas e os relatos de viagens.
Achava que lhes faltava a dimensão e a profundidade sociais que apenas obras de
maior amplitude conseguem garantir. Até que, por acasos do destino, comprei e
li Os Bastardos do Sol e, depois, Uma Pedrada no Charco. Depois, à medida das
possibilidades do meu bolso e do crédito que um amigo me concedia numa
livraria, corri a comprar tudo o que encontrei dele. E converti-me
definitivamente, e com maior convicção à medida que ia deixando a inocência
pelo caminho e pelos anos.
Urbano,
com quase noventa anos, partiu hoje, mas não nos abandona. Deixa-nos uma obra
intensa e variada, uma consciência incontornável, um espírito jovem e um sonho
de futuro. Bem haja Urbano, por tudo. Aplaudo-te, de pé!
1 Comentários:
This is cool!
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