António José Seguro
António
José Seguro nunca me enganou. Por detrás daquela carinha de bem comportado
menino do coro, a que falta a bata branca, está o prodígio que aos cinco anos
sabia de cor todo o catecismo – incluindo o Credo e a Salvé Rainha -, aos sete
ajudava à missa de domingo e agora está predestinado a salvar a pátria, chegar
a Marte e colonizar todos os satélites que giram em volta de Saturno.
Indeferindo, logicamente, qualquer pedido para que se exume o que resta de D.
Afonso Henriques na sé de Coimbra ou repita o torneio de Arcos de Valdevez,
para tirar teimas.
Em
prosa, que ele assina e que não se sabe quem redigiu, por sinal sem erros de
ortografia nem calinadas de maior, anuncia-se a indústria como o novo motor da
economia, uma novidade. Porque o país, como se sabe, não tem agricultura.
Apenas algures dois casais de jovens agricultores, na casa dos oitenta anos,
planta duas couves para o caldo e corta, à foice, umas ervas para as cabras. O
país não tem pesca porque os barcos que restam sulcam o Douro à procura de
Barca d’Alva, com turistas ingleses debruçados nos convés, e os pescadores à
linha envelhecem nas margens, esperando pelo crescimento da tainha e pela baixa
do custo da minhoca.
A
indústria será de facto o motor que não há e que, se houver, se não sabe para
que serve. Têm-se visto motores em muita coisa, de bicicletas a submarinos, mas
nunca nenhum iluminado se tinha lembrado de atrelar o ministério da economia a
um motor e a rebocá-lo para onde a indústria exista, representada por uma
fábrica com os trabalhadores despedidos e as instalações em ruínas. O
ministério da economia andará a reboque da indústria como a seleção de futebol
– uma nova indústria(?) bem sucedida, onde alguns espertalhões enriquecem assim
à maneira do transparente Ricardo Salgado – anda a reboque de Cristiano
Ronaldo, montado em meia dúzia de carros de luxo, camas com colchões da Colunex
e uma ou outra russa oportunista que prefere o euro ao rublo.
António
José Seguro propõe ao país, assim tu cá tu lá, como se este fosse o sacristão
que lhe deu a mão quando começou com a Avé Maria, um Plano de
Reindustrialização 4.0 (PR 4.0) que, apesar das letras a que se resume, não tem
nada a ver nem com Belém nem com Durão Barroso, que não quer para lá ir. E que
assenta em três eixos como qualquer camião Tir de três rodados com força
suficiente para galgar os Pirenéus. E propõe que se produzam mais tamancos, mais trapos para ceroulas, mais moldes para encher de gelatina, mais uma série
de bugigangas para atulhar as lojas dos chineses. Que se dê prioridade aos
setores endógenos, que não existem: a agricultura das couves para o caldo, a
agroindústria do tomate para as maluqueiras dos espanhóis, a floresta ardida de
fio a pavio e a indústria extrativa de esparguete das entranhas do Guadiana.
Adopção de uma estratégia industrial 4.0, de que o país carece, desde que D.
Pedro vingou a morte de Inês de Castro e D. Diniz interpelou a rainha Santa
Isabel sobre aquela história das rosas.
O
titular da pasta do motor, obviamente, só pode ser um: na impossibilidade de
nomear D. Afonso Henriques há-de o senhor Seguro nomear Mário Soares. É de
facto de um jovem destes de que o país precisa!
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