Uma primeira vez
A
noite é um manto púrpura que te esconde todos os frios. É uma brisa crepe que
te destapa todos os calores e te liberta todos os suores. Que te expõe à luz
todo o corpo pequeno, o peito quase raso, a sedução irresistível de uma penugem
macia, espreitando por entre as riscas coloridas da peça minúscula que te
resguarda da nudez absoluta. As tuas mãos, carregando a liberdade na ponta dos
dedos, muito cedo foram descobrindo atalhos e percorrendo carreiros que te
chegam à alma e levam a um destino breve algures na memória com que se imagina
o paraíso.
Mas
não te chegam as mãos para te deixar no pescoço fino o calor suave da
respiração que sobe pelas madrugadas do sonho. Nem para te arrastar levemente
pelo dorso o arrepio com que se iniciam novas rotas e se dobram novos cabos da
boa esperança. Até à terra única das especiarias, cravo e canela, onde são
descobertas todas as palavras doces que se murmuram e todas as que ficam por
inventar, no prazer do abraço forte com que te faltam as pernas, no largo de
onde partem os comboios e se dão as mãos, os dedos entrelaçados, com a força firme de uma primeira vez. Uma primeira vez!
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