Do horizonte se fez noite
Com o por do sol do
horizonte se fez noite escura, com a lua a caminho do quarto crescente. E a
ilha isolada, cercada do mar revolto que perdeu o azul da tarde, sem nenhuma
ponte que faça dela península, um istmo geográfico que possa levar-nos ao outro
lado do mundo, primeiro degrau da escada para as nuvens altas acima das quais
apenas sobrevivem pássaros de ferro, reluzindo ao sol quando o tempo se vira a
oriente.
Com a noite até o verde
explosivo das hortênsias virou distância, ladeando as veredas sem destino em
que se transformaram os caminhos, apesar da luz difusa dos candeeiros de
iluminação pública que deixam adivinhar a lava irada dos vulcões para lá do
nevoeiro em que se perdeu a tua silhueta esbelta e o castanho tranquilo dos
teus olhos se fez estrelinha, um ponto luminoso cintilando ao lado da estrela
polar.
Um dia destes há-de ser
tempo de lua cheia, um luar brilhante e próximo enchendo-me todo o espaço
aberto da janela, a preia-mar trazendo consigo um mar sereno, espelho perfeito
a reflectir todo o segredo dos teus passos, os cabelos soltos, um vestido breve
esvoaçando ao ritmo a que respiras, a luz tranquila dos teus olhos
confundindo-se com o candeeiro que varre todo o cais de embarque. Os barcos
balouçando à cadência a que te bate o coração.
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