6 de novembro de 2015

As mulheres

As mulheres! De lenço na cabeça, avental à cintura e tamancos nos pés, a face trigueira à custa do estio. Debruçadas nos lavadouros públicos, esfregando ceroulas encardidas, coradas ao sol fugidio de novembro. Um sorriso acanhado no fundo melancólico do olhar, ensinando línguas nas salas de aula das escolas públicas, a foice na mão direita segando as searas de trigo maduro, catarinas eufémias de um país por inventar, vermelho de sonhos e de um fustigante vento norte, sem pão para as crianças estendidas à porta.

As mulheres! De cabeça descoberta, sentadas nos salões dos cabeleireiros, os cabelos de molho na espuma dos champôs vindos de Paris, saias acima do joelho, frequentando universidades e fazendo ditados, perseguindo a independência económica e o abono de família para os filhos. Aprendendo a conduzir automóveis e a fazer manobras de marcha atrás, subindo ladeiras íngremes e descendo rampas sem fim que desembocam nas margens abruptas dos rios, onde se debruça a preguiça dos pescadores desportivos.


As mulheres! Envergando bandeiras desfraldadas nas tardes frescas de outono, com palavras de ordem clamando por dignidade, os cabelos soltos caindo para poente, a levar maior beleza ao por do sol e ao voo estridente das gaivotas, planando sobre um mar chão espreguiçando-se na areia fina e seca do dia tranquilo. Sapatos de salto espreitando pelos tornozelos, sentando-se à volta da mesa dos restaurantes, um peixe escalado na travessa, o verde da alface a cair-lhe das bordas, algumas garrafas de vinho branco tinindo de sede nos copos de vidro, a algazarra do riso a encher a rosa-dos-ventos. Um grão na asa!

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